Uma ilha do tamanho de um continente está literalmente mudando de forma.
De acordo com um novo estudo geofísico, a Groenlândia está sendo torcida, comprimida e esticada ao mesmo tempo — e o saldo final é um leve encolhimento, enquanto a ilha deriva para o noroeste.

O fenômeno foi identificado por meio de 58 estações de GPS científico, instaladas por pesquisadores para medir o movimento da crosta sob a camada de gelo.
Os dados mostram que o derretimento das geleiras, provocado pelo aquecimento global, está alterando o equilíbrio da Terra como se o planeta estivesse ajustando um colchão que perdeu peso de um lado.

❄️ O efeito dominó do gelo derretendo

Segundo medições por satélite (GRACE e GRACE-FO), a Groenlândia perde entre 270 e 280 gigatoneladas de gelo por ano, o suficiente para elevar o nível dos oceanos em cerca de 0,8 milímetro anualmente.

Com menos peso sobre a crosta, o solo sobe em alguns pontos e afunda em outros, criando uma espécie de “respiração geológica”.
O processo, chamado de ajuste isostático glacial, mostra como o planeta reage fisicamente ao derretimento das calotas.

Se toda a camada de gelo da Groenlândia derretesse — um cenário extremo e de longo prazo —, o nível do mar subiria até 7,4 metros.

🧭 “Encolher” não é apenas perder área

O estudo mostra que o encolhimento não é uniforme.
Enquanto o interior da ilha se eleva, as bordas costeiras sofrem erosão e recuo, resultado direto da redistribuição do peso e do derretimento do gelo.
Esse movimento faz a Groenlândia mudar de posição e formato, ainda que em escalas imperceptíveis no dia a dia.

Os cientistas comparam o processo a um cobertor puxado de lados diferentes: partes se esticam, outras se comprimem.

🌊 Por que isso importa para o resto do mundo?

• Nível do mar: a Groenlândia é hoje um dos maiores motores da elevação global dos oceanos, impactando cidades costeiras com enchentes mais frequentes e obras bilionárias de contenção.

• Ecossistemas: a mudança no relevo altera a drenagem, os fiordes e os habitats marinhos — afetando a pesca e a vida local.

• Mapas e medições: como o solo se move, modelos climáticos e sistemas de navegação precisam corrigir suas referências geográficas.

🌡️ Não é apenas “variação natural”

Embora ajustes geológicos sejam esperados desde o fim da última Era do Gelo, a velocidade atual da perda de massa é inédita.
Dados da NASA e de centros de pesquisa europeus mostram que o ritmo do derretimento nas últimas décadas não tem paralelo nos registros históricos.

🪨 Outras ilhas também encolhem — mas por motivos diferentes

Enquanto ilhas fluviais ou costeiras perdem terreno por erosão, a Groenlândia vive um encolhimento interno, causado pela interação entre gelo e rocha.
É um fenômeno que une climatologia e geofísica em escala continental.

🔭 O que vem pela frente

Os cientistas planejam expandir a rede GNSS de monitoramento para mapear, com ainda mais precisão, as “respirações” da ilha.
Apesar de variações anuais no volume de neve, a tendência geral é de perda contínua de gelo e deformações progressivas.

A Groenlândia, que por muito tempo simbolizou estabilidade congelada, agora se tornou um dos termômetros mais sensíveis do planeta.
E seu encolhimento é um lembrete físico e literal de que o mundo inteiro se move — e muda — com o clima.

🎥 Reprodução / PaiquereFMNews.com.br