O Sistema Único de Saúde (SUS) gastou R$ 449 milhões em 2024 com internações de vítimas de acidentes de trânsito no Brasil, de acordo com levantamento inédito do Ipea, com base nos dados do Datasus. O montante cobre desde atendimentos emergenciais até reabilitação prolongada, incluindo fornecimento de órteses e próteses. Esse valor seria suficiente para comprar 1.320 ambulâncias do SAMU, cerca de 50 para cada estado, e quadruplicaria a meta do Novo PAC Saúde, que prevê 350 unidades para atender 5,8 milhões de pessoas. Com essa quantidade de ambulâncias, seria possível ampliar a cobertura de urgência para 22 milhões de brasileiros.

O levantamento reforça o crescimento constante dos custos hospitalares relacionados ao trânsito, que subiram quase 50% em termos reais desde 1998. Para especialistas da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), esse modelo de mobilidade individualizado não só é ineficiente, como também caro e perigoso. Eles defendem que, em vez de gastar para reparar danos, o Brasil deveria investir mais em prevenção. A situação é agravada pela extinção do seguro DPVAT, que até 2020 destinava 45% de sua arrecadação ao SUS para custear atendimentos de vítimas de acidentes. Isso representava uma média de R$ 580 milhões por ano em recursos — que agora deixaram de ser repassados. Tentativas do governo de criar um novo seguro, o SPVAT, foram barradas após críticas de parlamentares e governadores.

Entre 2011 e 2020, o SUS recebeu mais de R$ 5,8 bilhões do DPVAT. Sem essa verba e com os custos cada vez mais altos, o atendimento às vítimas fica comprometido. A OPAS calcula que os sinistros de trânsito podem consumir de 1% a 3% do PIB dos países latino-americanos. No caso do Brasil, esse impacto pode chegar a R$ 351 bilhões anuais.