Em tempos em que o trânsito e a poluição dominam as grandes cidades, Afuá, no interior do Pará, segue na contramão — literalmente. Lá, carros e motos são proibidos. O som dos motores dá lugar ao barulho dos pedais e ao balanço das águas. Até a polícia, os taxistas e as ambulâncias circulam de bicicleta.

Localizada na região do arquipélago do Marajó, Afuá foi construída sobre palafitas, com ruas de madeira suspensas cerca de 1,20 metro acima do nível dos rios. Não há asfalto nem avenidas: o que corta a cidade são canais navegáveis e passarelas. Por isso, desde 2022, o município proibiu oficialmente a circulação de veículos motorizados, com exceção de poucos carros oficiais usados apenas em emergências.

O resultado é um modo de vida completamente diferente. Em Afuá, 75% dos deslocamentos são feitos por meios não motorizados — e a bicicleta virou símbolo de identidade local. Lá, ela assume múltiplas funções:

• 🚴‍♂️ Bicitáxi: duas bicicletas unidas, formando um quadriciclo artesanal que transporta passageiros.

• 🚑 Bicilância: uma versão de ambulância equipada com maca e cilindro de oxigênio.

• 🚓 Biciviatura: usada pela polícia local para patrulhar as passarelas.

Até o lixo é recolhido em triciclos, e noivas chegam aos casamentos pedalando — uma imagem que se tornou ícone da cidade.

Apesar de a proibição ter surgido por necessidade geográfica, Afuá acabou se tornando um modelo de mobilidade sustentável. Urbanistas e ambientalistas apontam que o estilo de vida local traz benefícios não só ao meio ambiente, mas também à saúde física e mental da população.

Sem congestionamentos, buzinas ou poluição, os moradores se acostumaram a um ritmo de vida mais calmo e colaborativo — um contraste com o caos urbano que domina grande parte das cidades brasileiras.

Afuá, a cidade “que pedala sobre a água”, mostra que um futuro sem carros é possível — e, ao que tudo indica, mais humano também.

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