Análise genética revela que domesticação dos gatos começou no norte da África — e não no Oriente Médio
Um estudo publicado na revista Science identificou que todos os gatos domésticos modernos descendem de populações africanas de Felis lybica lybica. A pesquisa sequenciou DNA de mais de 70 exemplares antigos e mostrou que a chegada desses felinos à Europa só ocorreu de forma ampla no período romano, por volta do século 1 d

Uma nova análise genética publicada na revista Science revisou a origem dos gatos domésticos e aponta que o processo de domesticação não começou no Oriente Médio, como se acreditava, mas no norte da África. O estudo mostra que todos os gatos domésticos modernos (Felis catus) descendem de populações africanas da subespécie Felis lybica lybica, especialmente de regiões próximas ao atual território da Tunísia.
A pesquisa foi coordenada pelo paleogeneticista Claudio Ottoni, da Universidade de Roma Tor Vergata. A equipe analisou 70 genomas de gatos antigos, datados entre 11 mil anos atrás e o século 19, além de 17 genomas de gatos selvagens modernos. Também foram incorporados dados de outros 225 exemplares arqueológicos para compor um panorama amplo da evolução genética dos felinos.
Segundo o estudo, antes de 200 a.C., os gatos encontrados na Europa pertenciam ao grupo dos gatos-selvagens-europeus (Felis silvestris), e não aos ancestrais diretos dos gatos domésticos. Trechos ocasionais de DNA de Felis lybica lybica foram identificados, mas considerados frutos de hibridização natural, e não indícios de domesticação precoce.
Os resultados reforçam que apenas as populações africanas de Felis lybica lybica deram origem aos gatos domésticos atuais, apesar de a subespécie também existir no Oriente Médio. A análise desloca o foco das teorias tradicionais que situavam a domesticação no Crescente Fértil durante o Neolítico. Uma lacuna ainda persiste: a dificuldade de recuperar DNA íntegro de múmias de gatos egípcios, deteriorado pelo processo de mumificação.
O estudo também rastreou a dispersão dos gatos domésticos pela Europa. A presença consistente desses animais só ocorre a partir do século 1 d.C., coincidindo com a expansão romana. Amostras encontradas em regiões como Áustria, Bélgica, Sérvia e Grã-Bretanha mostram ligação direta com gatos modernos e, mais remotamente, com felinos selvagens africanos. O cenário urbano romano, com grandes depósitos de grãos que atraíam roedores, favoreceu a rápida adaptação dos gatos e sua expansão populacional.
Pesquisadores sugerem ainda que rotas marítimas mantidas por fenícios e púnicos podem ter contribuído para a dispersão inicial desses felinos pelo Mediterrâneo, embora tenha sido o ambiente romano que consolidou sua presença na Europa.
Apesar dos avanços, os autores afirmam que a história evolutiva dos gatos ainda tem lacunas importantes. A recuperação de DNA egípcio é considerada crucial para entender como populações africanas se aproximaram das comunidades humanas, dando início ao processo de domesticação.
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