Caminhar até 7 mil passos por dia pode atrasar Alzheimer em até sete anos, aponta estudo da Harvard
Pesquisa acompanhou idosos por 14 anos e mostrou que níveis moderados de atividade física reduzem o acúmulo de proteínas ligadas ao Alzheimer e retardam o declínio cognitivo

Um estudo publicado em novembro de 2025 na revista Nature Medicine revelou que caminhar entre 3 mil e 7,5 mil passos por dia pode adiar em até sete anos o surgimento dos sintomas do Alzheimer em pessoas com predisposição à doença. A pesquisa integra o Harvard Aging Brain Study, da Harvard Medical School e do Massachusetts General Hospital, um dos mais completos e duradouros projetos sobre envelhecimento cerebral no mundo.
Segundo os autores, liderados por Wai-Ying Wendy Yau, até mesmo níveis moderados de atividade física mostraram capacidade de desacelerar o acúmulo das proteínas beta-amiloide e tau, diretamente relacionadas ao Alzheimer, além de retardar o declínio cognitivo.
Como a pesquisa foi conduzida
Os cientistas monitoraram 296 voluntários cognitivamente saudáveis, com idades entre 50 e 90 anos, por um período médio de 14 anos. Todos utilizavam pedômetros para registrar o número diário de passos e passavam por avaliações cognitivas anuais e exames de PET scan, que identificam o acúmulo das proteínas associadas à doença.
Os participantes foram divididos em três grupos:
Sedentários: menos de 3 mil passos/dia
Moderadamente ativos: 3 mil a 5 mil passos/dia
Ativos: 5 mil a 7,5 mil passos/dia
Os resultados mostraram que idosos ativos tiveram retardo de até 7 anos no início dos sintomas, enquanto os moderadamente ativos apresentaram atraso médio de 3 anos.
Efeito protetor mesmo em quem já tem risco elevado
Um dos pontos mais significativos do estudo é que os benefícios foram observados mesmo entre participantes com grande acúmulo de beta-amiloide, o principal marcador precoce da doença. A caminhada não reduziu essa proteína, mas diminuiu o avanço da tau, diretamente ligada à perda neuronal e ao aparecimento dos sintomas.
Isso indica que a atividade física pode atuar na fase silenciosa do Alzheimer, atrasando a transição entre alterações cerebrais e prejuízos cognitivos perceptíveis.
O limite do benefício
Os pesquisadores ressaltam que o ganho cognitivo atinge um platô a partir de aproximadamente 7,5 mil passos diários. Ou seja, caminhar muito além disso não ampliou a proteção contra o Alzheimer, embora siga sendo saudável do ponto de vista cardiovascular e metabólico.
Além disso, entre pessoas com baixo acúmulo de amiloide, o número de passos não teve impacto significativo — sugerindo que o benefício é mais forte para quem já está em grupo de risco.
Por que caminhar protege o cérebro?
De acordo com o neurocientista Aaron Schultz, coautor do estudo, o efeito ocorre porque a atividade física melhora o fluxo sanguíneo cerebral, reduz inflamações e facilita a remoção de resíduos que favorecem o acúmulo de proteínas tóxicas. “Não é necessário treinar intensamente para colher benefícios neurológicos. Mover-se um pouco todos os dias já faz diferença”, afirmou ao portal STAT News.
Harvard desmistifica os ‘10 mil passos’
A pesquisa também derruba o mito dos 10 mil passos diários, criado originalmente como estratégia de marketing na década de 1960 no Japão. Para os pesquisadores, 3 mil a 7 mil passos já são suficientes para ganhos cognitivos significativos — especialmente para idosos ou pessoas com limitações físicas.
“São metas alcançáveis, que mostram como pequenas mudanças de hábito podem impactar a prevenção da demência”, explicou a neurologista Rebecca Amariglio, coautora do estudo.
Limitações e próximos passos
Os autores destacam que o estudo é observacional e demonstra correlação, não causa direta. Ensaios clínicos controlados estão em planejamento para verificar se programas de caminhada supervisionada podem realmente alterar o curso biológico do Alzheimer.
Mesmo assim, a pesquisa reforça um conjunto crescente de evidências de que atividade física regular, mesmo em pequenas quantidades, é uma das ferramentas mais poderosas para proteger o cérebro ao longo da vida.
Siga a Paiquere FM 98.9 e se mantenha informado: @paiquerefm

