Cientistas identificam princípio universal que limita o crescimento da vida, mesmo com abundância de recursos
Pesquisadores do Earth-Life Science Institute, no Japão, anunciaram a descoberta de um princípio biológico que explica por que organismos não crescem indefinidamente, mesmo quando nutrientes estão disponíveis em excesso. Chamado de “princípio da restrição global”, o modelo mostra que múltiplos fatores passam a limitar o crescimento celular à medida que o organismo se desenvolve. A teoria foi validada com modelagens da bactéria E. coli e pode transformar áreas como biotecnologia, agricultura e ecologia

Um novo princípio biológico que pode redefinir a compreensão sobre os limites do crescimento da vida foi proposto por pesquisadores do Earth-Life Science Institute (ELSI), ligado ao Instituto de Ciência de Tóquio. A equipe apresentou o chamado “princípio da restrição global”, que explica por que organismos — especialmente microrganismos — não crescem indefinidamente, mesmo quando há nutrientes em abundância.
O ponto de partida do estudo é um fenômeno conhecido entre biólogos: ao aumentar a disponibilidade de nutrientes, o crescimento celular se acelera, mas de forma cada vez mais lenta. É a chamada “lei do retorno decrescente”. A questão que guiou os pesquisadores foi entender por que esse limite surge, mesmo quando não há falta aparente de recursos.
Para responder a essa pergunta, a equipe revisitou modelos clássicos. A equação de Monod, que mostra como células respondem ao aumento de nutrientes até atingir um platô, e a lei de Liebig, que afirma que o nutriente mais escasso define o ritmo de crescimento. No entanto, os pesquisadores apontam que essas teorias focam em um único gargalo, sem explicar o cenário completo.
O novo modelo parte de uma metáfora chamada “barril em degraus”. Em vez de um barril com ripas iguais, imagina-se um barril com ripas de alturas diferentes, que representam restrições celulares diversas, como limitações enzimáticas, espaço interno, volume da membrana e densidade molecular. À medida que mais nutrientes entram no sistema, diferentes restrições passam a dominar, freando o crescimento de forma progressiva.
Para validar o princípio, os cientistas usaram um modelo computacional baseado em restrições aplicada à bactéria Escherichia coli. As simulações consideraram a alocação interna de proteínas, o volume disponível para moléculas e limites físicos da membrana celular. Os resultados confirmaram a teoria: o crescimento aumenta com mais nutrientes, mas cada novo ganho tem impacto menor — e diferentes limitações surgem conforme a célula cresce.
A descoberta pode ter impacto amplo. Em biotecnologia, o modelo pode ajudar a identificar exatamente o que limita a produtividade de microrganismos usados na fabricação de medicamentos, enzimas e biocombustíveis. Na agricultura, permite estratégias mais precisas de fertilização ao entender quais fatores realmente restringem o crescimento das plantas. Na ecologia, oferece ferramentas para prever como ecossistemas respondem a mudanças ambientais ou poluição.
Segundo os autores, o princípio da restrição global funciona como um “manual universal” da vida, unificando comportamentos de crescimento em organismos e ecossistemas. A partir dele, novas pesquisas devem investigar como esse modelo se aplica a plantas, animais e sistemas biológicos complexos.
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