DNA artificial e embriões sintéticos levam ciência a um novo patamar na criação de vida em laboratório

Projeto internacional liderado por cientistas do Reino Unido busca sintetizar partes do DNA humano e reacende debates sobre avanços médicos e limites éticos da biologia sintética

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A ciência deu mais um passo significativo em direção à criação de vida em laboratório com o lançamento do projeto Genoma Humano Sintético (SynHG). Liderada por pesquisadores do Reino Unido, a iniciativa tem como objetivo sintetizar partes do DNA humano a partir do zero, ampliando a compreensão sobre o funcionamento do genoma e abrindo caminho para novas aplicações na medicina.

O projeto reúne cientistas de instituições de ponta, como a University of Cambridge, a University of Oxford e o Imperial College London, com financiamento inicial estimado em cerca de 10 milhões de libras esterlinas. A meta da primeira fase é ambiciosa: produzir, dentro de cinco a dez anos, um cromossomo humano completamente sintético, o que corresponde a aproximadamente 2% de todo o genoma humano.

A proposta provocou ampla repercussão na comunidade científica internacional. Especialistas apontam que a síntese de DNA artificial pode resultar em avanços importantes no tratamento de doenças genéticas atualmente consideradas incuráveis. Por outro lado, o projeto também reacendeu discussões éticas sobre os limites da manipulação genética e o risco de usos indevidos dessa tecnologia.

Geneticistas lembram que preocupações semelhantes surgiram durante o Projeto Genoma Humano, nos anos 1990. Ainda assim, defendem que o avanço científico costuma ocorrer sob rígidos protocolos de segurança e supervisão ética, mesmo que os riscos nunca possam ser completamente eliminados.

Embora represente um salto tecnológico, o SynHG não surge do zero. Em 2010, pesquisadores já haviam criado o genoma sintético de uma bactéria e o inserido em uma célula viva, que passou a funcionar inteiramente sob o controle desse DNA artificial. Anos depois, outros estudos demonstraram que apenas uma pequena fração do DNA é essencial para a manutenção da vida, ajudando a revelar que grande parte do genoma humano ainda tem funções pouco compreendidas.

Na medicina, o potencial do DNA artificial é considerado promissor. Atualmente, técnicas como o CRISPR permitem apenas alterações pontuais no genoma. A síntese de cromossomos inteiros poderia, no futuro, possibilitar a correção de falhas genéticas estruturais e ampliar significativamente as opções terapêuticas.

Paralelamente, avanços em biologia sintética têm impulsionado pesquisas com gametas artificiais. A técnica transforma células comuns do corpo em células-tronco e, posteriormente, em óvulos ou espermatozoides funcionais. Essa abordagem pode revolucionar a reprodução assistida, beneficiando pessoas com infertilidade e até permitindo que casais do mesmo sexo tenham filhos geneticamente relacionados a ambos. Resultados positivos já foram observados em estudos com animais, e pesquisas com células humanas seguem em andamento.

Outro campo que avança rapidamente é o dos embriões sintéticos. Cientistas já conseguiram criar estruturas embrionárias humanas capazes de se desenvolver em laboratório por até 14 dias, limite definido por diretrizes internacionais. O objetivo é estudar fases iniciais do desenvolvimento humano ainda pouco conhecidas, e não a geração de uma gravidez viável.

Especialistas reforçam que, apesar dos progressos, não há consenso científico sobre a possibilidade de esses embriões se desenvolverem plenamente caso fossem implantados em um útero. O entendimento predominante é de que a ciência deve avançar com cautela, equilibrando inovação tecnológica, benefícios médicos e responsabilidade ética.

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