Empresa no Japão aluga pais, amigos e parceiros para suprir carências emocionais

Com mais de 2 mil atores, empresa japonesa Family Romance oferece relações familiares por aluguel e levanta debate sobre solidão e afeto na sociedade moderna

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Foto: Reprodução/WEB

Na contramão das relações tradicionais, uma empresa japonesa tem chamado a atenção do mundo por oferecer um serviço inusitado: o aluguel de familiares e amigos. Fundada há 10 anos por Yuichi Ishii, a Family Romance conta com cerca de 2,2 mil atores disponíveis para atuar como pais, filhos, cônjuges, avós ou qualquer outro papel que o cliente desejar — seja para um jantar em família, uma reunião escolar ou até para acompanhar eventos sociais.

O conceito surgiu quando Ishii ajudou uma amiga mãe solteira a matricular o filho em uma escola, onde era exigida a presença do pai. Apesar de não ter funcionado bem na ocasião, ele percebeu uma demanda crescente por relações sociais e afetivas no Japão contemporâneo — um país marcado por altas taxas de divórcio, baixa natalidade e crescente solidão.

“Sou falso, mas por algumas horas eu realmente serei seu amigo ou seu parente”, resume Ishii. Atualmente, ele interpreta o papel de pai em 25 famílias, sendo considerado pai verdadeiro por 35 crianças. A empresa limita a atuação de cada funcionário a cinco “famílias” simultâneas, mas Ishii, por ser o fundador e mais experiente, ultrapassa esse limite. No total, ele mantém 69 relacionamentos representados, incluindo filhos, amigos e namoradas.

Os serviços, que custam a partir de 20 mil ienes por quatro horas (cerca de R$ 740), não envolvem qualquer vínculo real, mas exigem preparo e comprometimento emocional. Os atores precisam decorar nomes, histórias e dinâmicas familiares para manter a ilusão. Muitos clientes preferem que o ator retorne várias vezes, e há casos em que crianças crescem acreditando na autenticidade desses laços.

Apesar das críticas que recebe — como acusações de encenação e de distorção das relações humanas — Ishii defende que a Family Romance oferece suporte real em uma sociedade onde a solidão cresce e a pressão por uma imagem familiar ideal ainda é forte. “Nosso papel é agir como uma família ideal, mas não posso fingir o sentimento de amor”, afirma. Para ele, a sinceridade está em entregar uma experiência que, mesmo fictícia, gera conforto.

O trabalho, no entanto, cobra um preço. Ishii dorme cerca de três horas por noite, sofre com dúvidas sobre sua identidade e afirma não conseguir imaginar um casamento real sem misturar sentimentos com sua rotina de atuações. Ainda assim, acredita que está prestando um serviço necessário: “Vivemos um tempo em que é preciso complementar relações com aluguel. Claro que seria melhor se não fosse assim, mas essa é a realidade.”

A história da empresa já inspirou o cineasta Werner Herzog, que lançou o filme Family Romance, LLC com o próprio Ishii como protagonista. E em breve, o empreendedor deve lançar um livro, Human Rental Shop, contando os bastidores e dilemas de viver tantas vidas sem pertencer a nenhuma.

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