Associação de procuradores alerta para ‘açodamento’ em projeto antifacção e pede mais debate
A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) divulgou nesta terça-feira, 11, uma nota pública em que pede mais discussão sobre o projeto de lei antifacção, cujo relatório está sendo elaborado pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP). As alterações de Derrite no texto, de autoria do governo Lula, têm gerado atrito com integrantes do Executivo, da Polícia Federal e da Receita Federal. A previsão é que a proposta seja votada nesta quarta-feira, 12.
Na nota, a ANPR afirma reconhecer “a importância e a urgência do debate” sobre o projeto e destaca que a retomada de territórios dominados por facções é “uma tarefa inadiável”. A entidade adverte, no entanto, que a pressa na tramitação pode comprometer a qualidade do texto.
“A celeridade desejada na tramitação de um projeto dessa relevância não pode se confundir com açodamento. A aprovação de um texto sem a devida maturação técnica pode produzir efeitos contrários aos seus próprios objetivos, gerando insegurança jurídica e desorganização no sistema de persecução penal”, diz o documento.
A associação de procuradores ressalta que o combate ao crime organizado deve ser baseado em “medidas eficazes, duradouras e juridicamente consistentes – e não respostas reativas ou de natureza simbólica”.
A organização defende que o Ministério Público Federal, “titular da ação penal pública e responsável por parcela central do enfrentamento à macrocriminalidade”, seja incluído no debate, e se coloca à disposição do relator para “contribuir na construção de um texto coeso, harmônico e eficaz”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou o texto do projeto antifacção em 31 de outubro, em meio à repercussão da megaoperação policial que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro. Ele foi, então, enviado ao Congresso.
Na semana seguinte, Derrite se afastou do comando da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, reassumindo temporariamente sua vaga como parlamentar e sendo designado como relator da proposta pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
O substitutivo elaborado pelo relator desagradou a Polícia Federal ao sugerir que a corporação só poderia atuar em crimes considerados de competência da segurança pública estadual se isso fosse solicitado pelos governadores.
O deputado alterou o trecho para sugerir que a PF participe das investigações em caráter “integrativo” com a polícia estadual. Essa participação pode ocorrer por solicitação do delegado de polícia estadual ou do Ministério Público estadual, ou por iniciativa própria da PF, mediante comunicação às autoridades estaduais.
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), afirmou na segunda-feira, 10, que “em vez de fortalecer o combate ao crime organizado, o relator faz o oposto: tira poder da PF, protege redes de lavagem e impede a cooperação direta entre polícias, na contramão do que foi proposto na PEC da Segurança”.
Conforme mostrou a coluna de Marcelo Godoy no Estadão, o promotor Lincoln Gakiya, que investiga a o Primeiro Comando da Capital (PCC) e está jurado de morte pela facção, afirmou que o texto pode excluir não só a PF, mas também o Ministério Público, afetando investigações contra o crime organizado.

