Bienal de SP cancela de última hora debate com princesa belga por oposição da curadoria
A Bienal de São Paulo cancelou de última hora um debate com a princesa Marie-Esmeralda, da Bélgica, e o fotógrafo e documentarista João Farkas que ocorreria na quinta, 6. A decisão foi confirmada pelo evento em nota enviada ao Estadão nesta quarta, 5. Segundo a Fundação Bienal de São Paulo, o cancelamento foi motivado por “preocupações com segurança” e uma decisão da curadoria, “dado o conflito entre o trágico passado colonial belga e os temas abordados pela exposição”.
A reportagem tenta contato com representantes de Esmeralda, mas ainda sem sucesso. Caso haja retorno, a matéria será atualizada.
A princesa é um nome importante na defesa do meio ambiente e herdou do pai, o Rei Leopoldo III, um comprometimento com a defesa da Amazônia. Esmeralda também vai participar da COP30, em Belém, evento que tem início na segunda, 10.
Passado colonial belga
O cancelamento do evento da Bienal está relacionado ao parentesco de Esmeralda com o Rei Leopoldo II, monarca responsável pelo violento domínio colonial do Congo no final do século XIX. A princesa é bisneta de Leopoldo II.
Esmeralda, porém, já se posicionou contra o passado da família e chegou a pedir para retirar estátuas de Leopoldo II da Bélgica. Em entrevista à AFP em 2022, a princesa afirmou que o país deve “desculpas” pelo passado colonial.
Segundo Esmeralda, o posicionamento lhe rendeu críticas. “Eu não estava atacando minha família atual. Não somos responsáveis “por nossos ancestrais, mas temos a responsabilidade de falar sobre isso”, disse à época.
Defesa do meio ambiente
A princesa atualmente é presidente do Fundo Rei Leopoldo III, criado pelo pai em defesa da conservação da natureza. Leopoldo III visitou o Brasil pela primeira vez em 1920, durante a “Visita dos Reis Belgas ao Brasil”, e se apaixonou pela Amazônia.
Após abdicar do trono, ele passou a se dedicar ao meio ambiente e se tornou um dos primeiros estrangeiros a visitar o Xingu. Esmeralda trabalhou como jornalista sob um pseudônimo por anos e decidiu adotar seu nome de princesa da Bélgica para prosseguir com o ativismo herdado do pai.
A princesa também é reconhecida pela defesa do direito das mulheres e dos povos originários. “Temos que mudar a mensagem para falar sobre o meio ambiente: usar arte, música, fotos e outras formas de comunicação para passar esperança”, comentou ela em entrevista à Coluna Alice Ferraz, do Estadão, na terça, 4.
Nota completa da Bienal de São Paulo
“A Fundação Bienal de São Paulo confirma o cancelamento de atividade de programação prevista para quinta-feira, 6 de novembro, com a princesa Esmeralda da Bélgica e o fotógrafo João Farkas. A decisão foi motivada por preocupações com segurança e em consonância com avaliação da curadoria da 36ª Bienal, dado o conflito entre o trágico passado colonial belga e os temas abordados pela exposição.”

