Boulevard aéreo, retrofit e VLT: obras mudam a cara de Santos

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Projetos de urbanismo e infraestrutura têm mudado a cara de Santos, no litoral de São Paulo. A cidade, uma das mais antigas do Brasil, fundada em 1546, ganhou contornos mais modernos com obras como a revitalização do Parque Valongo, à margem do estuário do Porto de Santos. O centro histórico, com seus casarões seculares, tem agora um boulevard aéreo e passará a ser atendido pelo VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). A região terá também um terminal de embarque para passageiros de cruzeiros.

O boulevard é uma passarela de pedestres que liga o Parque Valongo, área de lazer pública do porto de Santos, à Rua XV de Novembro, no centro da cidade. Além da escadaria, a passarela tem uma rampa em caracol que facilita o acesso de pessoas com mobilidade reduzida.

A estrutura, com 228 metros de extensão e 6,6 metros de altura livre, passa sobre a via perimetral e a linha férrea. “Estamos interligando vários atrativos turísticos, como o Parque Valongo, a Bolsa do Café, os restaurantes”, diz o prefeito Rogério Santos (Republicanos).

Segundo ele, ainda será construído um elevador para ampliar o acesso ao boulevard. A obra é resultado de uma parceria entre a Autoridade Portuária de Santos (APS), a Ferrovia Interna do Porto de Santos (FIPS) e a prefeitura.

A empreendedora Marina Paes conta que a passarela foi construída em frente ao espaço de arte que ela mantém há um ano e três meses na região do Valongo. “Quando abri, o parque estava em obras, mas eu não sabia da passarela, até que vi umas pessoas fazendo medições. Ela está meio escondida entre os prédios, mas as pessoas estão descobrindo. Para quem tem comércio, ficou muito bom, pois facilitou e é um atrativo a mais.”

Conforme o presidente da APS, Anderson Pomini, no futuro, o boulevard atenderá mais de um milhão de turistas anuais que chegam ao porto nos navios de cruzeiro.

O Parque Valongo, que foi inaugurado em julho de 2024, vai abrigar o terminal de cruzeiros, atualmente funcionando no Outeirinho, distante da região turística da cidade.

A previsão é de que o novo terminal, que será na área turística do Valongo, em frente ao Museu Pelé, comece a operar em três anos. A parte flutuante será construída pelo vencedor da licitação do novo terminal de contêineres do porto.

O centro histórico de Santos já reúne os museus Pelé, do Café e o da Pirataria, que funciona no prédio da Alfândega, inaugurado em 1934. Muitos prédios tombados têm forte ligação com a história da colonização de São Paulo e do Brasil. É o caso do edifício que abriga o Museu do Café, de 1922, onde funcionou a bolsa que operava todo o café exportado pelo País.

O Parque Valongo permite vista privilegiada do estuário de Santos e a passagem de navios cargueiros. O espaço têm quadras para beach tênis, futevôlei e vôlei de praia, alameda, jardins, píer contemplativo e flutuante para embarcações.

A área remete ao local onde o Porto de Santos teve seu início, no século 19. Com o tempo, em razão das mudanças na logística mundial, o espaço perdeu sua função. Para que a região fosse revitalizada, o governo federal cedeu a área à prefeitura e empresas portuárias contribuíram com mais de R$ 40 milhões para as obras.

A 2ª fase, iniciada com a construção do boulevard aéreo, está em andamento. Estão em obras mais duas passarelas, cruzando a via perimetral da margem direita do porto e as linhas férreas, ligando a cidade ao cais.

Uma fica na bacia do mercado e facilitará a passagem dos usuários das catraias que ligam Santos a Vicente de Carvalho (Guarujá). Outra fica perto do terminal de passageiros e facilitará a passagem dos turistas de cruzeiros, além de trabalhadores do porto.

A parceria com empresas que operam o porto permitirá o restauro de bens históricos em áreas federais, como a Casa de Pedra, construção de 1897, e os armazéns 1, 2 e 3. As obras do Armazém 3 têm início previsto para agosto. O Armazém 4 foi restaurado e abriga um centro gastronômico e de eventos. O espaço já recebeu mais de 30 eventos de artes e cultura.

Entre as obras de mobilidade, o VLT está ganhando um segundo trecho, que vai ampliar a linha atual até o Valongo. A Linha 1 em operação tem 11,5 km de extensão, 15 estações e conecta o Terminal Barreiros, na vizinha São Vicente, à Estação Porto, em Santos.

A Linha 2, do Porto ao Valongo, terá 8 km e 12 estações, ligando a Estação Conselheiro Nébias ao Terminal Valongo. O novo trecho atenderá pontos como o Mercado Municipal, o Poupatempo e o polo universitário de Santos.

Quando o túnel submerso Santos-Guarujá estiver pronto, o VLT será estendido à cidade vizinha. O projeto do túnel prevê faixa exclusiva para a passagem da linha.

O VLT está em testes finais. A ideia da prefeitura é, com o transporte, atrair mais moradores para a região central e revitalizar a área.

São previstos investimentos de R$ 15 bilhões nos próximos anos, sendo R$ 6 bilhões no túnel, cujo leilão está previsto para setembro, e outros R$ 6 bilhões na licitação do novo terminal portuário de contêineres, que será o maior do Brasil. O restante será em outras obras. Também está previsto um novo acesso ao porto, saindo da Anchieta, com projeto da Ecovias (concessionária do Sistema Anchieta-Imigrantes).

A restauração do Mercado Municipal, inaugurado em 1902 e já reformado em 1947, será concluída até o fim do ano. O local será um hub de negócios, misturando comércio tradicional em boxes com empresas de economia criativa, cervejaria, café e restaurantes. O entorno será modernizado e integrado à estação do VLT. O anexo do prédio principal será sede do Centro Temático de Cinema de Santos.

A prefeitura também está reformando a escadaria do Monte Serrat, tradicional atração turística, que tem 402 degraus e dá acesso ao santuário de Nossa Senhora de Monte Serrat, construído em 1604. A chegada ao santuário também pode ser feita pelos bondinhos do sistema funicular, complexo turístico de 1927.

A Ponta da Praia foi repaginada e ganhou um mural assinado pelo artista Eduardo Kobra homenageando ícones da cidade, como Pelé, o bonde, a bolsa do café e o porto. A obra, de 800 m², ocupa uma das fachadas do novo Centro de Convenções de Santos.

O bairro ganhou também uma fonte interativa, um deck para o pescador e um novo Mercado de Peixes que, além de oferecer pescados frescos, tem um restaurante com pratos marinhos. Foram realizadas também obras de drenagem para combater o antigo problema das enchentes na região da entrada.

O professor Ronaldo Christofoletti, do Departamento de Ciências do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), considera importante que os projetos em andamento e futuros levem em conta os impactos das mudanças do clima, principalmente em uma cidade costeira, como Santos. “Vivemos em cidades que foram construídas num momento em que os impactos das mudanças do clima não eram como são agora e, para as cidades costeiras, não existia o aumento do nível do mar que está tendo.”

Ele defende que as cidades revejam sua interação com a água e se adaptem. “É necessário que as visões de quem planeja as obras estejam alinhadas com o conhecimento científico. Estive em discussões sobre as obras de maior impacto em Santos e as discussões sobre a melhor forma de fazer sempre aparecem. Mas é preciso que, na hora de fazer, sejam aplicadas.”

O pesquisador considera que obras como o Parque Valongo, o boulevard aéreo e o túnel submerso trazem uma nova dinâmica de circulação na cidade. “A revitalização de áreas traz um novo cenário e é preciso pensar em desafogar áreas muito densas de fluxos e pessoas. Vejo que Santos está re-olhando seus espaços, buscando novas propostas e, até onde conheço, aplica as soluções baseadas na natureza, com um olhar mais à frente. É preciso que a sociedade acompanhe e cobre.”

Para ele, ao fortalecer as soluções baseadas na natureza para resiliência climática, com um olhar do futuro, Santos tem a oportunidade de se tornar um exemplo que pode ser seguido por outros municípios que também terão de se adaptar ao novo normal. “Como cidadão e cientista, torço para isso.”

Na cidade dos idosos, reocupação do centro com estudantes

O Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que Santos abriga a maior proporção de idosos entre os municípios com mais de 50 mil habitantes – 25,3% dos moradores têm mais de 60 anos. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede grau de escolaridade, renda e nível de saúde, está entre os mais elevados do País.

A procura por imóveis, nos últimos anos, se concentra na beira-mar, mas a ideia é reocupar o centro histórico. Uma das apostas é impulsionar os projetos de retrofit, com isenção do Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) durante a construção.

O primeiro projeto nessa linha é de um prédio da Rua Gonçalves Dias, na área central, que está sendo restaurado em parceria com o governo do Estado para atender estudantes da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp). Mais três edifícios antigos estão em processo para início da modernização.

O primeiro projeto nessa linha é de um prédio da Rua Gonçalves Dias, na área central, que está sendo restaurado em parceria com o governo do Estado para atender estudantes da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp). Mais três edifícios antigos estão em processo para início da modernização.

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Estadão

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