Caso Vai de Bet: Melo está seguro de que não será indiciado e descarta renúncia no Corinthians

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O presidente do Corinthians, Augusto Melo, se pronunciou nesta sexta-feira sobre as investigações que apontam que uma empresa ligada ao Primeiro Comando da Capital (PCC) recebeu parte do dinheiro do acordo entre o clube e a Vai de Bet, após a quantia passar por diferentes empresas usadas como ‘laranjas’. Ao lado do dirigente alvinegro, estava Ricardo Cury, seu advogado de defesa, que disse estar tranquilo quanto à possibilidade indiciamento do cliente.

“A defesa tem muita segurança e tranquilidade de que o presidente Augusto não será indiciado. Não tem elementos para o indiciamento. E justifico para não parecer que é uma coisa lançada. Do ponto de vista criminal, o indiciamento é o primeiro passo para responsabilização. Tem de haver uma ação ilegal ou omissão praticada pelo investigado”, disse Cury.

“Nesse caso, não há nenhuma ação ilegal ou omissão indevida do presidente Augusto. Juntamos no Inquérito providências tomadas pelo presidente augusto assim que saiu a matéria do colega de você, Juca Kfouri (primeiro jornalista a noticiar o caso). A defesa juntou toda a documentação. Sai a matéria, várias coisas acontecem até a instauração do inquérito. Inúmeras coisas.”

O pronunciamento ocorreu depois da coletiva de apresentação dos novos membros da diretoria corintiana e houve espaço para perguntas de jornalistas. Antes de responder os questionamentos, o presidente corintiano listou por mais de 15 minutos o que considera os principais feitos de sua gestão, como bater recorde de receita e acordo de diretos de transmissão.

Em seguida, Augusto não se aprofundou sobre o caso Vai de Bet e deixou as principais questões sobre o tema serem respondidas pelo advogado. Neste semana, a Polícia Federal concluiu que empresas laranjas foram utilizadas para fazer mais de R$ 1 milhão chegar à conta da UJ Football Talent Intermediação, apontada pelo delator Antônio Vinícius Lopes Gritzbach como braço do PCC no futebol.

Durante a coletiva, Cury afirmou que Augusto confiou nos processos internos antes de assinar o contrato, aprovado por departamentos como o marketing, o compliance e o administrativo.

“O documento volta para ele assinar. Ele vai questionar o jurídico? Ele vai questionar o compliance? Ele vai questionar o marketing? O que ele questionou foi o seguinte: ele cortou para menos o valor que seria pago pela intermediação. Ele vai questionar o administrativo?”, questionou.

“Os valores que são praticados no Corinthians são monstruosos, as intermediações são monstruosas. Ele não vai checar tudo. Não vai falar, vamos segurar um mês e examinar cláusula por cláusula. O presidente da República não faz isso, um governador não faz isso. O Corinthians é gigante, é um trabalho insano. Ele confiou nos dirigentes, e continua confiando”, completou.

O advogado lembrou como se deu a assinatura do contrato, firmado em um hotel em São Paulo, em dezembro, antes mesmo de a nova gestão tomar posse. Ele contou que o presidente não pôde ficar até o fim da reunião porque tinha outra compromisso.

“Abre essa agenda, houve uma reunião no hotel Tivoli. Haviam outros interessados. Foi fechado no mesmo dia, porque os valores eram inéditos na América Latina. Essa negociação subiu o sarrafo de todos os times brasileiro”, afirmou.

Mesmo se for indiciado, Augusto Melo, alvo de quatro processos de impeachment – um deles em razão do caso Vai de Bet -, não pretende renunciar à presidência do Corinthians.

“Jamais. Não tenho problema nenhum com isso, não tenho nada a ver com isso. Tudo que eu faço tem o jurídico que me dá o suporte, o compliance que me dá o suporte. Eu me dispus a tudo isso. A gente queria que esse processo fosse investigado o mais rápido, possível, porque não tenho nada a ver com isso”, afirmou.

De acordo com Cury, ao fim do Inquérito, o Corinthians deve entrar com uma ação contra a Vai de Bet. “O Corinthians não pode errar. Existe um conflito entre Corinthians e Vai de Bet. Quando terminar o inquérito, vai ser escalado. Uma ação vai ser proposta contra a Vai de Bet. Ela menciona um ano depois que o intermediário desse negócio teria sido outro.”

O CASO VAI DE BET

Ao longo dos últimos meses, o Corinthians teve o nome associado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), em razão de valores desviados do contrato entre o clube e a antiga patrocinadora Vai de Bet. Nesta semana, após quase um ano de investigações, a Polícia Federal (PF) concluiu que a Rede Social Media, que intermediou o acordo de patrocínio, usou uma empresa fantasma para fazer R$ 1.074.150,00 chegar à conta bancária da Football Talent Intermediação, empresa apontada como braço do PCC.

A conclusão da PF esquenta os bastidores da política corintiana, poucos dias antes da votação do impeachment do presidente do clube, Augusto Mello, alvo de quatro pedidos de destituição, um deles justamente em razão do caso Vai de Bet. A reunião que deve decidir o futuro do dirigente está marcada para o dia 26 de maio.

O Corinthians anunciou, em janeiro de 2024, um acordo de patrocínio com a Vai de Bet no valor R$ 360 milhões. Em junho, após as notícias de repasses a ‘laranjas’, a casa de apostas rescindiu o contrato de forma unilateral. São quatro as empresas envolvidas na situação:

Rede Social Media design Ltda: pertence a Alex Cassundé, um dos alvos da investigação. Atuou na campanha presidencial de Augusto melo como consultora de marketing e, depois, foi escolhida para intermediar o negócio com a Vai de Bet. Recebeu dois depósitos de R$ 700 mil feitos pelo Corinthians, nos dias 18 e 21 de março.

Neoway Soluções Integradas em Serviços e Soluções Ltda: Recebeu, da Rede Social Media, parte do R$ 1,4 milhão. Foram dois pagamentos, nos dias 21 e 26 de março. A empresa foi usada como “laranja” para dissimular o destinatário final do dinheiro r nome de Edna Oliveira dos Santos, uma empregada doméstica que vive em Peruíbe. De acordo com a investigação, a Newoay integra um ” grupo criminoso” ao lado de oturos CNPJs: a ACJ Platform, a Thabs Soluções Integradas e a Carvalho Distribuidora.

Wave intermediações e tecnologia Ltda: Também apontada como empresa fantasma, foi o terceiro destino no caminho do dinheiro subtraído dos cofres do Corinthians. Registrou uma movimentação de R$ 13 milhões entre os dias 26 de março e 28 à empresa Victory Trading Intermediação de Negócios, Cobranças e Tecnologia Ltda, outra investigada no caso.

UJ Football Talent: De acordo com delação de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, assassinado no Aeroporto de Guarulhos em novembro do ano passado, é o braço do PCC no futebol. Recebeu R$ 874.250,00 da Wave e mais R$ 200 da Newoay, enviados à ela pela Victory Trading.

O delegado Tiago Fernando Correia, que preside o inquérito do caso, não tem dúvidas de que o Corinthians, como instituição, é uma vítima da situação. Não à toa, a conclusão apresentada é que o clube foi vítima de um furto qualificado praticado por uma associação criminosa envolvida com a lavagem de dinheiro.

“Em suma, que o Sport Club Corinthians Paulista foi lesado, é indubitável; e concordemos que, não se trata de coincidência, muito menos de mero acaso, o dinheiro ter saído das contas de um renomado Clube brasileiro para ser abocanhado por uma afamada Agência de Assessoria Esportiva”, escreveu o delegado.

As suspeitas relacionadas aos dirigentes, contudo, continuam vivas. Augusto Melo prestou depoimento em abril e corre o risco de ser indiciado.

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Estadão

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