Com liquidação que tentou evitar, Master se junta a banco Santos, Bamerindus e Cruzeiro do Sul
Com a decisão do Banco Central de liquidar o Master, o banco se junta a nomes que tiveram destino semelhante no passado, como o Bamerindus, Banco Santos, Cruzeiro do Sul e BVA, em processos que se arrastaram por anos. Com ativos de R$ 87 bilhões e passivos de R$ 83 bilhões, segundo dados de março do BC, é uma das maiores intervenções bancárias da história do sistema financeiro brasileiro.
Para fontes de grandes bancos, o Master tentou costurar às pressas o acordo com o grupo Fictor, que surpreendeu o mercado ontem ao ser anunciado, justamente para evitar a intervenção do BC, que vinha sendo cogitada pelo mercado desde que o regulador negou a compra de parte do banco pelo Banco de Brasília (BRB). Não deu certo e o banco agora se juntou a outros casos históricos.
No caso do Bamerindus, a intervenção do BC no banco foi decretada em 1997, com o banco apresentando R$ 4,2 bilhões em patrimônio negativo. A liquidação extrajudicial iniciada no ano seguinte e só foi encerrada em 2014. A parte boa do banco foi vendida na época para o HSBC. Em 2013, o BTG comprou parte do espólio do Bamerindus.
Já o Cruzeiro do Sul teve a liquidação extrajudicial anunciada em setembro de 2012, por causa de um rombo de R$ 1,3 bilhão. O processo foi encerrado pelo próprio BC em setembro de 2015, quando a instituição teve sua falência oficialmente decretada pela Justiça.
No caso do Banco Santos, do empresário Edemar Cid Ferreira, a intervenção veio em novembro de 2004, que foi transformada em liquidação extrajudicial em março do ano seguinte. Em setembro de 2004, a falência do banco foi decretada pela Justiça.
A liquidação extrajudicial de uma instituição financeira acontece quando o BC vê o caso como irrecuperável, seja por uma fraude no banco ou por outro motivo, como dificuldade de honrar compromissos financeiros. Com a ação, o funcionamento do banco é interrompido e a diretoria é afastada.
Vorcaro vinha desde o começo do ano buscando uma solução para o banco, que tinha dívidas de R$ 16 bilhões a vencer em 2025, de acordo com seu balanço mais recente, de 2024. O banqueiro fez duas tentativas para se desfazer do banco, primeiro para o Banco de Brasília, em operação negada pelo Banco Central, e ontem para o Grupo Fictor.
Ao longo do ano, o Master fez dois aportes de R$ 1 bilhão cada e ainda tomou R$ 4 bilhões de recursos no Fundo Garantidor de Crédito (FGC), empréstimo que vencia, após ser rolado, no final deste mês. O banco cresceu captando com o lançamento de CDB garantido pelo FGC.
As dificuldades de levantar recursos para fazer frente aos compromissos de pagamento de CDBs levou o Master a procurar financiamento nos fundos de pensão de Estados e municípios. Ao todo, foram as entidades de previdência públicas investiram quase R$ 2 bilhões em títulos do banco, aplicações que viraram alvo de questionamentos e auditorias em tribunais de contas por todo o País.
As polêmicas envolvendo a captação de recursos pelo Master levaram a uma pressão para as mudanças das regras do FGC. Em agosto, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou regras mais duras para o uso das garantias do Fundo. O comunicado do BC naquele momento fez uma clara alusão ao banco de Vorcaro, ressaltando que as mudanças “objetivam desincentivar financeiramente as instituições associadas ao FGC de usar as captações garantidas de forma desproporcional.”

