Conclave: quem é o cardeal espanhol que tem medo de ser papa, mas corre o risco de ser eleito?

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O cardeal espanhol Cristóbal López Romero, arcebispo de Rabat, capital do Marrocos, ameaçou fugir do conclave caso seu nome apareça entre os favoritos para assumir a liderança da Igreja Católica. O espanhol, conhecido por ser defensor do diálogo inter-religioso e por permanecer ao lado dos imigrantes, não aparece na lista de 22 “papáveis” do Colégio dos Cardeais, mas é apontado por algumas casas de aposta como um azarão.

Em entrevista à emissora de TV espanhola, RTVE, Romero afirmou que desejar ser papa é sinal “de um problema na cabeça, psicológico, ou de um mal-estar no coração”.

“Se vejo o perigo de ser eleito no conclave, começo a fugir e só vão me encontrar na Sicília”, disse, arrancando risos dos jornalistas.

Após deixar o tom irônico de lado, o espanhol de 72 anos comentou que renegar o trono papal não é uma opção para um cardeal eleito em um conclave. Mas explicou que não é algo que se aspira.

“É uma atitude diferente, é um serviço que só é realizado se solicitado, mas desejá-lo ou buscá-lo…não”, explicou o cardeal. “Isso não existe entre nós, mesmo que muitos se recusem a acreditar. Na política, aspirantes a líderes se declaram candidatos. Aqui na Igreja, ninguém faz isso.”

Algumas casas de apostas colocam o cardeal salesiano entre um dos cardeais que poderiam suceder o papa Francisco, principalmente por ter uma filosofia semelhante ao do pontífice argentino, sobretudo no que diz respeito à questão da migração e do diálogo com os muçulmanos. Mas López Romero defendeu que não tem “nenhuma ambição” e nunca se imaginou cumprindo tal função.

“O fato de eles mencionarem meu nome é, na verdade, um bom sinal: não terei que carregar esse fardo pesado”, avaliou o religioso, citando a máxima que costuma reger os conclaves, segundo a qual “quem entra papável, sai cardeal”.

López Romero tem uma extensa experiência internacional. Ele passou quase duas décadas no Paraguai e, de lá, se mudou para o Marrocos, onde dirigiu um centro de formação profissional entre 2003 e 2011. Ele então foi para a Bolívia, onde ficou por quatro anos, antes de voltar para a Espanha. Em 2017 ele foi nomeado arcebispo de Rabat pelo papa Francisco e, dois anos depois, foi elevado a cardeal.

López Romero não considera que a migração seja um problema, mas sim “a consequência de muitos problemas”, essencialmente pobreza, guerra, fome, mudanças climáticas, desigualdade. O cardeal já propôs, inclusive, a realização de um sínodo exclusivamente dedicado ao tema da migração, que, segundo ele, é um fenômeno que requer reflexão de toda a Igreja Católica.

Ele já expressou também preocupação com a falta de compaixão de alguns cristãos para com os imigrantes e outros grupos vulneráveis, e afirmou que sofre quando as pessoas, depois da missa, pedem a ele que “não envie mais migrantes do Marrocos”.

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Estadão

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