Diretor diz que taxa neutra do BC não lida com eventos únicos; é estrutural

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O diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, afirmou nesta quinta-feira, 16, que a taxa de juros neutra que o Banco Central tem não lida com eventos únicos, como o impacto do pagamento dos precatórios feitos no início do governo. “É a ideia de uma taxa neutra mais estrutural”, disse, durante palestra no “Global Macro Sessions”, organizado pelo UBS BB, em Washington, nos Estados Unidos.

O evento ocorre às margens das reuniões anuais do Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI) e do grupo das 20 maiores economias do globo (G20). Segundo ele, há indícios de que o Brasil não está muito distante de sua taxa neutra.

O diretor explicou que o colegiado acredita que o nível das taxas de juros (15% ao ano) está mais apertado do que deveria em condições normais para trazer a inflação de volta para a meta. “De volta ao ponto da taxa neutra: nos últimos três anos, tivemos muitos eventos únicos e que não se repetirão, o que impulsionou o crescimento da economia muito além do que as pessoas estavam antecipando. Então, todos ficaram surpresos”, recordou.

Nilton justificou que a “camada extra” de aperto da Selic existe exatamente para enfrentar os resultados de eventos únicos como este do passado recente. “Tivemos algumas decisões judiciais não pagas que foram acumuladas antes do término do mandato presidencial anterior”, citou, em relação aos precatórios.

“Este presidente decidiu limpar isso. É uma decisão judicial, não há muito o que se possa fazer a respeito. Eles poderiam ter espaçado, mas decidiram resolver. Foi uma decisão, tudo bem. E houve consequências para a política monetária. Seria ótimo se estivéssemos em uma condição de folga, mas não estávamos, e é assim que é”, concluiu.

O diretor salientou que o movimento já era esperado, mas que o impacto não apenas foi maior do que o que todos aguardavam, mas também demorou mais para desaparecer. “Temos que lembrar também que estamos vindo de um aumento de poupança praticamente em todo o mundo e no Brasil não foi diferente durante a pandemia. Então foi outra onda. E os dados também eram muito mais complicados de serem antecipados, dada a perturbação que tivemos nos tempos de pandemia”, pontuou.

Nilton comentou que este foi apenas um evento, mas que houve um conjunto de outros “eventos únicos”, como a decisão de começar a tributar empresas offshore. “Antes, se você montasse uma empresa offshore, poderia adiar seus impostos sem limite. Agora, praticamente como em qualquer outro lugar do planeta, você tem que fazer um balanço todos os anos e pagar impostos”, citou, acrescentando que essa mudança fez com que as pessoas que tinham esses mecanismos procurassem algo que pudesse realmente eliminar ou pelo menos adiar o pagamento de impostos.

Uma das saídas encontradas, de acordo com o diretor, foi investir em títulos locais, que são baseados para investimento a longo prazo e contam com alguns incentivos fiscais. “Então, tivemos uma demanda excepcional por crédito no Brasil. Esta é uma das razões.”

O diretor disse ainda que há uma razoável convicção no BC de que o Brasil não está muito longe da taxa neutra. “Eu também continuo brincando que vamos saber daqui a alguns anos ou erramos menos. Essa é outra razão pela qual temos que estar em uma condição mais apertada: há muitas camadas de incertezas”, reforçou.

Inflação e meta

O diretor de Política Monetária do Banco Central disse ainda que a autarquia está convencida de que só será capaz de trazer a inflação de volta à meta de maneira consistente se o crescimento do Brasil estiver dentro do potencial.

Segundo Nilton, o Brasil cresceu mais do que o esperado, um pouco além do potencial, mas a expectativa é de que isso não se repita nos próximos anos. O crescimento acima do potencial foi visualizado, inclusive, a partir da balança comercial forte, afirma.

Já as expectativas de inflação, coletadas pela pesquisa Focus, alcançaram um pico em 2024 e desde então vêm diminuindo consistentemente, observa.

O diretor do BC considera que a queda nas expectativas de inflação ainda não está no ritmo desejado, mas o fato de estarem indo em direção à meta deve ajudar.

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Estadão

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