Enfermeira registra colapso de hospital em Gaza sob cerco israelense

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A enfermeira americana Andee Vaughan registrou em vídeo o colapso do hospital Al-Quds, no sul da cidade de Gaza, em meio ao cerco das tropas israelenses e à intensificação da ofensiva terrestre na região.

Duas semanas após o início da operação, clínicas e hospitais foram destruídos ou fechados, e as unidades restantes funcionam de forma precária, com escassez de medicamentos, equipamentos, alimentos e combustível, enquanto médicos lutam para manter pacientes graves vivos sob bombardeios e disparos de drones.

No vídeo, Vaughan mostra explosões próximas ao hospital, corredores antes lotados agora vazios e a tentativa de manter vivos os dois recém-nascidos restantes da UTI neonatal. Em uma das imagens, ela segura um bebê de 13 dias enquanto explosões derrubam a frequência cardíaca da criança.

“Eles acabaram de atingir o hospital novamente”, narrou em um dos vídeos. Vaughan mostrou quartos destruídos, camas cobertas de cacos de vidro e colchões manchados de sangue. Ela se mudou para o porão por segurança. No dia seguinte, após sua saída, colegas relataram a aproximação de veículos militares israelenses ao portão sul do hospital.

Na semana passada, o hospital Al-Quds, no sul da cidade de Gaza, removeu a maior parte de seus pacientes com a aproximação das forças israelenses. Um paciente com queimaduras graves em 40% do corpo foi deixado em meio aos escombros e orientado a procurar uma clínica por conta própria, segundo Andee, que atuava como voluntária no local.

“É uma loucura”, disse Vaughan em entrevista no mesmo dia em que também foi retirada. “Esse é o estado do sistema de saúde, que está sendo desmantelado deliberadamente”, elatou.

Situação crítica no hospital Al-Quds

Com capacidade para 120 pacientes, o hospital abriga hoje apenas cerca de 20, incluindo dois bebês em terapia intensiva, além de 60 médicos, enfermeiros e familiares de pacientes que seguem refugiados ali.

Vaughan, natural de Seattle, atua como voluntária da Associação Médica Palestina-Australiana-Neozelandesa desde julho e registrou em vídeo sua experiência em Gaza. As gravações, compartilhadas com a AP, mostram a precariedade da unidade: falta de água, eletricidade e oxigênio, cuja estação foi atingida por disparos israelenses.

Israel afirma que a ofensiva na cidade de Gaza tem como objetivo destruir a infraestrutura do Hamas e libertar reféns capturados no ataque de 7 de outubro de 2023.

O Exército israelense ordenou a evacuação da população local para o sul, alegando motivos de segurança. Na quinta-feira, o Crescente Vermelho Palestino, que administra o Al-Quds, afirmou que veículos israelenses cercaram o hospital, restringindo totalmente a movimentação de pacientes e funcionários, enquanto drones atiravam contra o edifício e arredores.

Israel acusa o Hamas de utilizar instalações médicas para fins militares, mas apresentou poucas evidências. Autoridades de saúde e médicos negam. Questionado sobre a situação do hospital, o governo israelense não respondeu.

Vaughan foi retirada do local na terça-feira, com outro médico, e se deslocou para o sul. “Meus colegas estão me mandando mensagens perguntando por que fui embora. Eles dizem que vão morrer”, relatou.

Apesar da ordem de retirada, centenas de milhares de palestinos permanecem na cidade de Gaza, que tinha cerca de 1 milhão de habitantes antes da ofensiva. Segundo especialistas internacionais, a região enfrenta fome generalizada.

Israel bloqueou a passagem de ajuda humanitária pelo norte desde 12 de setembro. Grupos de socorro tentam levar suprimentos pelo sul, mas enfrentam estradas destruídas e restrições de movimento impostas pelo Exército israelense, segundo a ONU.

Na última semana, ataques israelenses destruíram ao menos duas clínicas em áreas opostas da cidade, obrigaram o fechamento de um hospital infantil e de um centro oftalmológico, e forçaram a evacuação de um hospital de campanha jordaniano. A ONU informou que outras 27 unidades médicas foram fechadas em setembro.

No hospital Shifa, o maior da cidade, quase 100 pacientes fugiram com a aproximação de tanques israelenses. Muitos médicos deixaram de comparecer ao trabalho. “O medo é real”, disse Hassan AlShaer, diretor médico da unidade.

Grupos de direitos humanos estimam que mais de 160 profissionais de saúde palestinos estavam detidos por Israel em fevereiro. O Exército afirma que as prisões seguem a lei e envolvem suspeitas de ligação com o Hamas.

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Estadão

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