‘Estamos desesperados’, diz dono de restaurante em Pinheiros que está sem luz há dias

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Apesar de a concessionária de energia Enel afirmar já ter normalizado o serviço na Grande São Paulo, paulistanos seguem reclamando de falta de luz nesta terça-feira, 16. Na quarta-feira passada, 10, a região metropolitana da cidade foi atingida por uma ventania recorde.

Segundo balanço da Enel, há cerca de 45 mil imóveis sem eletricidade na manhã desta terça. A empresa afirma que são casos registrados nos dias seguintes ao apagão que começou na quarta.

“Estamos desesperados”, afirma Hugo Delgado, proprietário de um restaurante de rua em um sobrado na Rua Francisco Leitão, em Pinheiros, na zona oeste da capital. Segundo ele, o estabelecimento já soma R$ 40 mil de prejuízo com as perdas do apagão, e a Enel ainda não informa um prazo concreto para o restabelecimento da eletricidade.

A luz no local acabou às 14h de quarta-feira, assim como no resto do bairro, e chegou a voltar às 11h30 de quinta, 11. Mas a felicidade durou pouco: meia hora depois, uma árvore em frente ao restaurante caiu, derrubando a fiação elétrica. “O resto da rua está com energia. Só a gente e o sobrado vizinho, com duas casas geminadas, seguimos no escuro”, afirma Delgado.

A Enel tem destacado que os ventos na semana passada atingiram quase 100 km/h, o que resultou em centenas de árvores caídas. A empresa diz ainda ter mobilizado até 1.800 equipes para os reparos (leia mais abaixo).

Esse número é contestado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), que diz ter identificado uma quantidade bem menor de veículos da empresa nas ruas por meio do sistema municipal de câmeras.

Na última semana, moradores relataram diversos transtornos, desde a perda de estoque até dificuldades para trabalhar e interrupções no fornecimento de água, também prejudicado pelo blecaute.

Vizinhos ajudam com geladeiras

O proprietário do restaurante em Pinheiros calcula ao menos R$ 30 mil de prejuízo com vendas perdidas nos dias fechados e R$ 3 mil com perda de produtos em geladeiras, além de gastos extras de R$ 7 mil com a contratação de um gerador, que usou no último sábado, 13. “Somos um restaurante pequeno e esses números são grandes para a gente”, enfatiza. “É muito assustador, isso quebrou completamente as nossas pernas.”

Além do gerador alugado no sábado, dia de maior movimento, Delgado tem tentado manter o restaurante aberto na hora do almoço com o uso de luz natural. Ele conta com a ajuda de vizinhos com energia, que disponibilizaram suas geladeiras para que ele pudesse guardar produtos. O empresário também precisou recorrer aos vizinhos para carregar o celular e as maquininhas de cartão de crédito.

“A situação está muito complicada e não sabemos quando vai normalizar”, desabafa, suspirando. “É urgente. Já são seis dias. Tentamos contato com a Enel por todos os canais, pelo aplicativo, pelo atendimento telefônico, por telefone e até pelo direct do Instagram. E nada.”

A reportagem questionou a concessionária sobre este caso específico, mas ainda não obteve retorno.

Empresa cita plano de investimento

A Enel afirma que, entre 2025 e 2027, vai investir R$ 10,4 bilhões para a modernização e digitalização da rede na Grande São Paulo, além de ter contratado mais 1.200 profissionais.

A nova crise de falta de energia – após episódios semelhantes em 2023 e 2024 – fez a empresa voltar aos holofotes, com pedidos de intervenção federal pelas autoridades de São Paulo. Uma das preocupações é sobre a renovação antecipada da concessão com a empresa italiana, cujo contrato é válido até 2028.

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse nesta segunda, 15, que a União não pode empurrar a renovação com a empresa “goela abaixo”. Ele irá se reunir nesta terça com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Na semana passada, o ministro do governo Lula chegou a dizer que Nunes e Tarcísio faziam “disputa política” com o evento extremo climático.

No sábado, 13, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que a Enel restabelecesse imediatamente o fornecimento de energia a hospitais, serviços de saúde, eletrodependentes e outros serviços essenciais, sob pena de multa de R$ 200 mil por hora. E deu até 12 horas para os demais imóveis afetados.

Na tarde de segunda, após o fim do prazo, a Defensoria Pública do Estado e o Ministério Público Estadual afirmaram que vão oficiar a Enel e a Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado (Arsesp) requisitando informações sobre a quantidade de imóveis sem energia desde quarta. “A solicitação é necessária para apuração do eventual descumprimento e o cálculo de multa por hora.”

PUBLICIDADE
Estadão

Todas as notícias de Londrina, do Paraná, do Brasil e do mundo.