Expectativa de Copom menos duro e melhora no cenário externo reduzem taxas de juros
Embora as apostas para o início do ciclo de flexibilização monetária não tenham sido antecipadas, a expectativa em torno de uma comunicação mais ‘dovish’ do Banco Central na reunião desta quarta-feira do Comitê de Política Monetária (Copom) animou os investidores, levando os juros futuros de prazos curtos a renovarem mínimas intradia na segunda etapa do pregão desta quarta-feira.
Segundo agentes, o movimento benigno também foi impulsionado pelo maior apetite global ao risco, que valorizou o câmbio e se refletiu em recuo das taxas intermediárias e longas, a despeito do aumento no retorno dos Treasuries. A liquidez reduzida nos negócios, ao ampliar as oscilações dos juros, pode ter acentuado a correção em relação à alta dos DIs na terça, que ainda assim foi modesta.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 oscilou de 13,868% no ajuste anterior a 13,84%. O DI para janeiro de 2028 passou de 13,159% no ajuste a 13,125%. O DI para janeiro de 2029 diminuiu de 13,118% no ajuste da véspera a 13,055%, na mínima do dia. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,345%, também na mínima, vindo de 13,426% no ajuste antecedente.
Economista-chefe do banco BMG, Flávio Serrano avalia que o gatilho para a redução dos DIs nesta quarta foi mais doméstico do que externo, uma vez que o rendimento dos títulos soberanos dos Estados Unidos ganhou ímpeto e o real teve performance melhor ante a divisa americana do que grande parte das moedas emergentes. Ao final da sessão, o dólar caiu 0,69% ante a divisa local.
“Me parece mais que há otimismo em relação a uma possível mudança na comunicação do BC”, diz Serrano, destacando as discussões do mercado sobre se o BC vai retirar ou não o termo “bastante” que acompanha a palavra “prolongado” de seu comunicado, expressão que faz referência ao horizonte em que a Selic deve ser mantida em 15%. A exclusão da palavra “bastante”, conforme um grupo de analistas espera, deve ser interpretada como senha para um corte em janeiro de 2026.
“Se o Copom retirar o ‘bastante’ do comunicado, isso não significa que vai cortar em dezembro, mas a aposta de corte em janeiro vai ganhar força”, diz o economista-chefe do BMG.
Marianna Costa, economista-chefe da Mirae Asset, menciona a melhora do ambiente externo e a baixa liquidez no mercado local de renda fixa como outros vetores que contribuíram para o fechamento da curva.
“Lá fora houve um pouco mais de otimismo no pregão, com um pouco mais de apetite por risco, mas o DXY termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes está estável, então não é um fluxo forte”, afirma Costa. “Não vejo um gatilho específico para a queda dos DIs, mas mais o mercado se posicionando para um eventual BC mais ameno ou um pouco menos ‘durão'”, comentou.
Os agentes também estarão atentos, de acordo com a economista, ao resultado do modelo da autoridade monetária para a inflação, que deve ceder ligeiramente em sua visão. O destaque será a projeção para a alta anual do IPCA até o segundo trimestre de 2027, atual horizonte relevante para a política monetária.
Com visão mais conservadora sobre a trajetória da Selic, que deve ser cortada somente em abril de 2026 em seu cenário-base, a Santander Asset avalia que o ambiente segue construtivo para a renda fixa local. A visão da gestora se baseia no quadro de queda dos juros nos EUA e também nos prêmios de risco embutidos nas curvas de juros domésticas.
Segundo a asset, há uma leitura de alívio no ambiente inflacionário após o resultado abaixo do previsto do IPCA-15 de outubro e recuo das expectativas inflacionárias para horizontes mais longos. “Nesse contexto, entendemos que faz sentido manter posições aplicadas em juros locais, tanto pelo ambiente global quanto pela evolução favorável da inflação doméstica”, aponta a instituição em carta mensal publicada nesta quarta.

