Funcionários do Nubank divulgam manifesto contra mudanças no home office e demissões

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Funcionários do Nubank divulgaram na noite da quarta-feira, 12, um manifesto contra o fim do trabalho remoto e as demissões que ocorreram na última semana. O texto foi lido durante uma plenária virtual promovida pelo Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, que contou com a presença de quase 300 pessoas.

Procurado pelo Estadão, o Nubank não respondeu até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto.

O banco anunciou, no dia 6 de novembro, mudanças no modelo de trabalho, que deixará de ser majoritariamente remoto para ser em formato híbrido a partir do ano que vem. O anúncio não agradou parte dos funcionários, que se manifestaram durante uma apresentação ao vivo do fundador e CEO da empresa, David Vélez, enquanto ele era assistido por mais de sete mil pessoas. No dia seguinte, 12 colaboradores foram demitidos por justa causa e, na segunda-feira, 10, outros dois também foram dispensados.

“Em total contraste com o discurso de valorização de feedbacks, diversidade e autonomia, o Nubank reagiu com punição aos trabalhadores e trabalhadoras que se opuseram ao novo regime de trabalho”, diz a carta aberta.

“O que se vê é uma decisão arbitrária, insensível e sem base empírica, que ameaça o nosso bem-estar, a diversidade e confiança que sustentam nossa cultura e afeta profundamente nossas vidas, famílias e estabilidade financeira”, continua o texto.

O manifesto termina com a exigência da reversão das mudanças no formato de trabalho e a recontratação dos colaboradores dispensados.

Um dia antes da divulgação do texto, Vélez respondeu a um comentário no LinkedIn, onde disse que pessoas que trabalhavam no Nubank confundiram um canal corporativo ‘com rede social ou arquibancada de estádio”.

Segundo o sindicato, entre os pontos levantados pelos funcionários insatisfeitos, estão o fato de terem optado por trabalhar no Nubank devido à promessa de trabalho remoto e a necessidade de mudança para locais com escritórios da empresa, como São Paulo e Rio de Janeiro.

“Outro ponto abordado foi a forma como a mudança foi comunicada pelo Nubank, sem que fosse apresentada aos trabalhadores qualquer justificativa amparada em dados para a mudança de regime de trabalho”, disse a entidade. Os funcionários também relataram que a “mensagem” passada pelo Nubank no anúncio foi de “ou aceita ou será demitido”, de acordo com a associação.

“O sindicato deixa claro que não aceitará retaliação por conta de manifestações dos trabalhadores pelo descontentamento com o fim do modelo 100% home office. É uma mudança grave, que precisa de diálogo. Os trabalhadores têm que ser ouvidos. Esperamos que, a partir de agora, o Nubank esteja disposto a ouvir as reivindicações que serão apresentadas nas mesas de negociação”, disse a presidente da entidade, Neiva Ribeiro.

Uma reunião entre os representantes do sindicato e a direção no Nubank está agendada para a próxima quarta-feira, 19.

Leia a íntegra do manifesto

“Os trabalhadores organizados de todas as entidades legais do Nubank (Nu Asset, Nu Commerce, Nu Crypto, Nu Financeira, Nu Invest, Nu Pagamentos, Nu Pay, Nu Signals, Nu Tech e Olivia) e de todos os países atuantes (Brasil, Colômbia e México) vêm através desta carta manifestar seu repúdio:

ao fim unilateral do modelo remoto e a imposição do trabalho presencial a partir de 2026;

e às advertências e demissões retaliatórias de funcionários do Nubank que manifestaram seu legítimo descontentamento frente a uma decisão que impôs a todos uma drástica mudança em sua realidade de trabalho sem qualquer negociação prévia.

Em total contraste com o discurso de valorização de feedbacks, diversidade e autonomia, o Nubank reagiu com punição aos trabalhadores e trabalhadoras que se opuseram ao novo regime de trabalho. Oficialmente, 14 demissões por justa causa – um número inédito e alarmante – somadas a diversas advertências diante de reivindicações legítimas, a gestão escolheu a punição em vez do diálogo com os trabalhadores.

Em poucos anos, o Nubank cresceu de 25 milhões para mais de 100 milhões de clientes, superando US$20 bilhões de lucro líquido, consolidando-se como uma das maiores histórias globais de sucesso e como o maior banco da América Latina.

Esse resultado é fruto do trabalho de equipes remotas, diversas e comprometidas, que entregaram crescimento, inovação e eficiência à distância em um modelo de trabalho que já contempla períodos presenciais de uma semana a cada três meses e impulsiona a cultura, colaboração e o fortalecimento das equipes. Essas equipes têm orgulho da empresa que construíram, dos resultados que entregaram, de dia após dia construir a marca mais valiosa do Brasil e um dos melhores bancos do mundo[2] segundo a Forbes.

Por isso, é inaceitável que tamanha mudança seja imposta sem diálogo e sem apresentar qualquer dado, evidência ou justificativa objetiva, ignorando a opinião de mais de 90% da empresa segundo a própria Chief People Officer. O que se vê é uma decisão arbitrária, insensível e sem base empírica, que ameaça o nosso bem-estar, a diversidade e confiança que sustentam nossa cultura e afeta profundamente nossas vidas, famílias e estabilidade financeira.

Não nos concentraremos aqui no fato que o trabalho remoto não reduz a produtividade. As evidências são claras e o próprio Nubank admitiu. Cabe mencionar que políticas de RTO reduzem a satisfação média dos trabalhadores e provoca saída em massa de profissionais qualificados, sobrecarregando os que ficam. Cuidadores familiares (especialmente mulheres), pessoas com deficiência e neurodivergentes são ainda mais afetadas por essas mudanças, causando impacto desmesurado no seu desempenho profissional e qualidade de vida. Por fim, deslocar trabalhadores para grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro implica em uma perda de renda real e no decréscimo da qualidade de vida dos trabalhadores.

Portanto, com nossos direitos constitucionais a manifestação e a livre organização, viemos exigir:

A REVERSÃO DO RTO, com abertura de negociação entre a empresa, seus trabalhadores e a representação sindical.

Fim da PUNIÇÃO e RECONTRATAÇÃO IMEDIATA de todos os demitidos por expressarem de forma justa a sua indignação por tamanho impacto nas nossas vidas e nosso trabalho.

Convocamos todes funcionários do Nubank a se somarem nessa luta.”

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Estadão

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