Guerra comercial de Trump ameaça o propano, uma das principais exportações de energia dos EUA
As tarifas anunciadas pelo presidente americano Donald Trump estão desafiando um dos maiores sucessos de exportação dos Estados Unidos na última década: o comércio de propano com a China. A enxurrada de impostos de importação entre os dois países tornou o propano americano proibitivamente caro para as usinas que surgiram na China para transformá-lo em um ingrediente-chave para o plástico.
Os preços do propano nos Estados Unidos caíram cerca de 15% e as tarifas para os navios-tanque especializados que transportam o combustível através dos oceanos sofreram uma forte queda desde que Trump lançou uma enxurrada de tarifas no início deste mês. Seu principal alvo passou a ser a China, sobre a qual impôs tarifas de 145%. A China respondeu com tarifas de 125% sobre as importações dos Estados Unidos, incluindo o propano.
De quase zero há uma década, o propano se tornou um dos principais produtos vendidos pelos Estados Unidos para a China, juntamente com soja e eletrônicos. No ano passado, a China comprou quase 18% de todo o propano exportado pelos americanos, atrás apenas do Japão.
Parte desse valor foi para aquecimento e cozinha. Mas a maior parcela foi destinada a usinas de desidrogenação de propano, que produzem propileno para uso em produtos como carpetes, para-choques de carros, baldes, garrafas de água, óculos, embalagens para alimentos, sacolas de supermercado, colchões e meias.
O imposto de importação recíproco da China torna o propano dos Estados Unidos profundamente antieconômico para suas usinas de propileno, afirmam analistas e consultores comerciais. Isso sem considerar o efeito que as tarifas americanas podem ter sobre a demanda por produtos plásticos que a China fabrica com propano americano e envia de volta.
Na última vez em que a China se relacionou com Trump em questões comerciais, em 2018, o país parou de importar propano dos EUA e recorreu a outros fornecedores. No entanto, seu estoque de usinas de fabricação do produto aumentou desde então. Não há outro fornecedor com capacidade para suprir a fatia de 60% do consumo chinês que as importações americanas representam, disse Julian Renton, da empresa de dados de energia East Daley Analytics.
“A China não pode substituir o propano dos EUA e os EUA não podem substituir a demanda chinesa por propano”, diz Renton. “Esses dois mercados estão interligados e não poderão se desvincular.”
O Departamento de Energia dos EUA afirmou na semana passada que espera que parte dos cerca de 400 mil barris por dia que a China importa de fornecedores americanos encontre novos compradores. Mas isso não será suficiente para impedir o acúmulo de propano no centro de comércio de exportação em Mont Belvieu, no Estado do Texas, e para evitar que os preços caiam.