Haddad diz não poder antecipar decisão sobre juro que cabe a Galípolo e destaca autonomia do BC
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que não pode antecipar decisões sobre o rumo do patamar de juros no Brasil que serão tomadas por Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, e equipe, apesar de considerar a taxa “altíssima”. Em entrevista ao portal UOL, Haddad frisou a autonomia da autoridade monetária e lembrou que o BC está sob nova gestão há quatro meses.
Questionado sobre o combate à inflação, o ministro defendeu que os preços devem se acomodar caso o governo siga perseguindo e cumprindo as metas fiscais e o BC faça seu trabalho.
“O Banco Central está sob nova gestão há quatro meses, não é tanto tempo, e eu diria assim, com uma passagem que não foi simples, não foi simples. É a primeira vez que um governo tem que conviver dois anos com um presidente do Banco Central nomeado pela oposição”, disse, mencionando as ligações políticas de Roberto Campos Neto, que esteve no comando da autoridade monetária até o final de 2024.
Questionado sobre uma mudança de rumo no trabalho do BC sob a presidência de Galípolo, Haddad evitou falar sobre mudanças na condução da política monetária. “Eu não posso antecipar uma decisão que cabe a ele e ele tem autonomia institucional para tomar as decisões cabíveis. Ele é uma pessoa da confiança do ministro da Fazenda, do presidente da República, senão não estaria onde está. Agora, ele que sabe dos constrangimentos que ele herdou, como eu sei dos constrangimentos que eu herdei”, afirmou.
Haddad disse não se incomodar em ser comparado com Paulo Guedes, que foi ministro da Economia na gestão de Jair Bolsonaro, desde que seja feita uma comparação honesta. “Vou fazer tudo o que for necessário para cumprir as metas estabelecidas pelo governo, para que as coisas se acomodem no patamar que eu considero satisfatório para a economia crescer com distribuição de renda”, comentou.
Expectativa sobre a inflação
O ministro da Fazenda disse também que a inflação vai se acomodar com o cumprimento das metas fiscais e condução da política monetária pelo Banco Central, mas reconheceu o desafio das pressões externas, como a variação cambial.
“Do meu ponto de vista, se você cumprir metas fiscais e o Banco Central fazer o seu papel, você vai acomodar isso (inflação). Tivemos uma desvalorização cambial no ano passado em virtude de questões domésticas, mas também muito por questões externas. Essa confusão que está no mundo, isso afeta todas as economias”, avaliou Haddad, mencionando que há países com inflação mais controlada e sem crescimento.
Ele repetiu que, no âmbito doméstico, a inflação só será corrigida e retornará à meta – de 3% ao ano – com o cumprimento das metas fiscais e o trabalho do Banco Central. “Você não vai corrigir a inflação por outro caminho, você tem um ponto de vista macroeconômico. Agora, há questões pontuais em que você pode atuar. E há questões que temos até dificuldade de saber como atuar”, disse.
Ele citou como exemplo a demanda mundial crescente por café. “Tenho um grupo de trabalho na Fazenda estudando especificamente o café”, disse, frisando a complexidade do tema.
Questionado se o trabalho de ministro da Fazenda é o pior emprego do mundo, porque além de lidar com temas complexos, a economia influencia a popularidade do governo, Haddad disse que é um trabalho fascinante e desafiador.
“Penso que nós vamos entregar um país melhor do que nós recebemos. Isso aí não tem a menor dúvida. O presidente Lula vai chegar no seu quarto ano de mandato com o Brasil numa situação muito melhor do que o que recebeu”, disse o ministro da Fazenda.