Influenciador é condenado a pagar R$ 50 mil por expor pessoas em ‘pegadinhas’ na internet

O Tribunal de Justiça de Pernambuco condenou o influenciador e youtuber Rafael Francisco Cavalcanti da Silva, conhecido como Rafael Chocolate, a pagar R$ 50 mil em indenizações por danos morais causados a duas vítimas que foram alvos de pegadinhas produzidas pelo produtor de conteúdo em Recife, capital do Estado. Com 900 mil seguidores no Instagram e cerca de 5,4 milhões de inscritos em seu canal no YouTube, ele é conhecido nas redes por produzir pegadinhas com pessoas desconhecidas – como fingir ser uma pessoa com deficiência ou simular um engasgo ao pedir orientações sobre um endereço.
A defesa de Rafael Chocolate não foi localizada. A reportagem também tentou contato com o próprio influenciador, mas ele não respondeu até a publicação deste texto. O espaço segue aberto. Nos dois casos, os alvos das pegadinhas afirmam que não autorizaram o uso e a veiculação de suas imagens e alegam que se sentiram constrangidos com a publicação dos vídeos. Em ações impetradas na Justiça, os valores somados chegam a R$ 50 mil. Uma das vítimas relatou ao Judiciário ter sofrido problemas psiquiátricos em decorrência da repercussão do caso e até perdido o emprego.
Entenda os casos
O primeiro caso que chegou ao Judiciário aconteceu em dezembro de 2019. A vítima, um homem hoje com 31 anos, relatou que Rafael Chocolate jogou um balde em sua cabeça enquanto ele caminhava pela rua, entre 15h e 16h, em meio a outras pessoas. Constrangido, o homem pediu para que o youtuber não publicasse o vídeo nas redes sociais, mas o pedido não foi atendido. Rafael Cavalcanti acabou divulgando as imagens da pegadinha na internet, apenas borrando o rosto da vítima.
Nos autos, a vítima declarou que teve problemas psiquiátricos após o caso. Apesar de o rosto não ser exibido, contou que ao menos 15 pessoas a reconheceram nas imagens e fizeram chacota com a situação. Disse também ter sido diagnosticado com transtorno de ansiedade e depressão, e que o comportamento agressivo adquirido após a exposição online acarretou sua demissão do trabalho.
Segundo a advogada dele, Amanda Cavalcanti, as condições emocionais e psicológicas foram atestadas por meio de laudos e também por uma perícia judicial, que comprovou os transtornos. Ainda segundo Amanda, seis anos depois da pegadinha, ele continua sofrendo as consequências da exposição. “Ele desenvolveu ataques de pânico, evoluindo para uma esquizofrenia. Atualmente recebe tratamento psicológico, mas, infelizmente, não apresenta quadro de melhora. Não possui qualquer condição de trabalhar ou de ter uma vida comum”, disse.
A Justiça já havia condenado Rafael Chocolate em primeira instância, em 2021, ao pagamento de R$ 15 mil por danos morais ao alvo da pegadinha, incluindo a retirada do trecho em que o homem aparece. Ele recorreu, mas a decisão foi mantida em acórdão publicado no mês passado. O youtuber chegou a editar o conteúdo e remover as imagens, mas o vídeo segue no ar. A indenização aplicada foi de R$ 15 mil, mas os valores foram corrigidos e, incluindo honorários, chegam a R$ 30 mil.
“A situação vexatória pela qual o apelado (vítima) foi exposto é um claro caso de abuso da liberdade de expressão, pois não pode o apelante (Rafael Chocolate), com evidente interesse comercial (…) colocar qualquer cidadão em situação ridícula para, divulgando as imagens sem a concordância da pessoa exposta, provocar risos em sua audiência”, escreveu o desembargador Adalberto de Oliveira Melo.
O segundo caso aconteceu em 2022, com um vendedor ambulante senegalês chamado Modou Lo. A pegadinha do youtuber era realizada por três amigas dele que, ao fingirem estar distraídas, sentavam no colo de alguns homens na rua. O vídeo foi publicado no YouTube e possui 8 milhões de visualizações. Mesmo depois de o caso chegar à Justiça, o conteúdo não foi retirado do ar.
“Uma das mulheres chegou lá, sentou no colo dele, tudo filmado. E ele, muito incomodado, se levantou e não gostou da situação. O humorista tentou abraçar, conversar com ele, mas como ele não entendia o idioma, deixou pra lá e achou que a situação tinha sido resolvida”, contou Alex Firmino, advogado do senegalês.
“Horas depois, ele começou a ser motivo de chacota, porque várias pessoas passaram a postar fotos e vídeos dele na internet, fazendo piadas e memes de cunho sexual”, acrescentou. De acordo com Firmino, o youtuber foi procurado, mas não deu retorno. “Foi quando resolvemos entrar com uma ação judicial, com a possibilidade de receber os ganhos por isso”, disse. A Justiça condenou Rafael Chocolate em primeira instância ao pagamento de R$ 20 mil, corrigidos para os valores atuais. Cabe recurso.

