Josué Gomes critica Estado que age sob influência do lobby e diz que sai da Fiesp mais liberal

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Às vésperas de encerrar mandato, presidente da entidade afirma que Congresso tem sido ‘muito permeável’ a grupos de interesses corporativos. A poucos dias de encerrar o seu mandato à frente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o presidente da entidade, Josué Gomes da Silva, criticou nesta quarta-feira, 10, a força do lobby de corporações empresariais.

Segundo ele, pressões de organizações com maior capacidade de articulação política têm prevalecido sobre os interesses do setor produtivo, em especial no Congresso. Isso levou, entre outros resultados, a um grande número de exceções na reforma tributária, com consequente derrota da Fiesp no pleito por um IVA máximo de 25%.

Nesse sentido, Josué disse que sai da Fiesp mais liberal do que quando entrou. “Estou quase abraçando o discurso ultraliberal. Eu saí da Fiesp mais liberal do que quando entrei. Sempre fui liberal (…) É que eu cheguei aqui e meio que me desanimei sobre a capacidade do Estado em agir corretamente. Porque o Estado acaba agindo de acordo com a influência dos grupos de pressão. E aí ele pode agir corretamente para aqueles grupos de pressão, mas não para toda a economia”, afirmou Josué. A crítica foi feita durante um balanço de sua gestão em café da manhã com jornalistas.

“Então, como eu estou hoje cético quanto à capacidade de o Estado atuar de maneira adequada para o desenvolvimento nacional, estou abraçando a tese de que talvez seja melhor tirar de fato o Estado, tornar tudo isonômico, não dar benefício para ninguém e deixar que cada um se vire”, complementou.

Ao falar sobre a perda de influência do setor produtivo ante segmentos que obtiveram benefícios, Josué voltou a criticar o que chama de Síndrome de Estocolmo, referindo-se ao apoio de industriais à agenda do mercado financeiro.

“É comum, em qualquer atividade, em qualquer entidade de classe empresarial, a defesa dos mesmos pontos que o setor financeiro sempre defende, como que o problema da taxa de juros é que o Estado gasta mal, gasta demais. É até verdade, em parte, mas não é isso que vai resolver o problema da taxa de juros. E a gente repete o mesmo mantra do setor financeiro”, comentou Josué. “Nós nos tornamos como aquele sequestrado que se apaixonou pelo sequestrador, e que fica repetindo o discurso do sequestrador. Nós nos apaixonamos pela causa dos outros setores que sequestraram a agenda econômica brasileira. É por isso que a gente não consegue vencer esse debate”, concluiu.

Segundo o empresário, o Congresso Nacional, especialmente, tem sido “muito permeável” a lobbies, prejudicando a revisão de subsídios, que acabam se perpetuando. Assim, ressaltou Josué, setores com menor capacidade de articulação política terão que pagar uma alíquota maior, de 28,5%, do imposto sobre valor agregado, o IVA, criado pela reforma tributária, algo que, entende, estimula a sonegação, ao contrário do que espera o Ministério da Fazenda. “Porque 28,5% é um prêmio muito grande para quem sonega. Se fosse 20%, era um prêmio menor”, comentou.

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Estadão

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