Lula se reúne com Norinco e estatal chinesa pode atuar em segurança e ter parte da Avibras

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A gigante estatal chinesa do setor de defesa e segurança Norinco teve uma audiência nesta segunda-feira, dia 12, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Pequim. Lula conversou com o CEO da Norinco, Cheng Fubo, e comitiva.

Não houve assinatura de protocolos ou acordos, mas o ministro Rui Costa (Casa Civil) disse após o encontro que a empresa não vai sofrer qualquer tipo de resistência para negócios no Brasil, inclusive eventual compra de participação na Avibras.

A Avibras é fabricante de equipamentos de defesa e aeroespacial, entre eles o sistema Astros, um projeto estratégico de artilharia do Exército Brasileiro. A empresa domina parte de uma tecnologia sensível cobiçada no mercado, com disparo guiado de foguetes de precisão até 300 quilômetros de distância.

O projeto começou em 2012 e tinha previsão de ser entregue por completo, com todas as viaturas equipadas com lança-mísseis encomendadas, em 2031. Há preocupação nas Forças Armadas com o destino da empresa nacional.

O sistema Astros 2020 também usa componentes dos EUA, e a Norinco foi sancionada no país, o que gera preocupações de embargo à fabricação e uso dos equipamentos, em potencial retaliação por parte de Washington.

“O ideal como nação, não como governo, é que a gente mantenha o capital nacional majoritário numa empresa que tem tecnologia de armamento em algum grau de desenvolvimento. Se não estamos na ponta, temos um acúmulo que deve ser preservado”, afirmou Rui Costa.

“Hoje é uma empresa privada, o governo não tem nem poder de veto se ela (Avibras) se compuser com qualquer empresa de outro país, desde que fique com capital majoritariamente nacional. Ela tem liberdade para escolher seus parceiros.”

O governo monitora prospecções da venda do controle da Avibras para encaminhar seu endividamento, de mais de R$ 600 milhões quando pediu recuperação judicial, em 2022, com alto passivo trabalhista. Em três anos, já foram sondadas propostas de empresas dos Emirados Árabes Unidos, Austrália e da China (a própria Norinco), assim como soluções nacionais.

Integrantes do governo e militares receiam problemas de ordem política caso o sistema Astros caia nas mãos da fabricante estatal chinesa. A questão é considerada sensível por causa da possível desnacionalização da empresa. Mas Costa nega que haja um veto.

“Ao entrar no Brasil, obviamente eles vão analisar diversas possibilidades, entre elas está a se tornar sócio de empresas de maioria de capital privado, que é o caso da Avibrás. A Avibrás passa por um momento de dificuldade, tem empréstimos não quitados, dívidas com BNDES, Caixa e Banco do Brasil”, disse Rui Costa.

A Norinco indicou que vai mandar até o fim de maio uma delegação ao Brasil para prospectar oportunidades de negócio, seja nos setores de defesa e segurança e outras áreas como óleo e gás e mineração. Uma das frentes de contato será com a Petrobras, e outra com a Vale.

O governo Lula quer usar a expertise da empresa no uso de tecnologias em projetos voltados à segurança pública, como reconhecimento facial, drones e centros de monitoramento, comando e controle.

A gestão Lula estuda a possibilidade de montar um centro nacional de comando e controle unificado, que reúna segurança, defesa civil e saúde, por isso o interesse nas soluções da Norinco.

Rui Costa disse que as parcerias ainda não estão “maduras” para anúncio, mas que espera evolução até julho, quando Xi Jinping deve viajar ao Rio para parcitipar da Cúpula do Brics.

O presidente também recebeu pela manhã executivos do setor de energia.

Lula esteve com o CEO da Envision, Lei Zhang, uma fabricante de turbinas eólicas e sistemas de gerenciamento de energia e armazenamento. Em seguida, teve audiência com o presidente do conselho da Windey Technology, Chen Qi.

Segundo o chefe da Casa Civil, as empresas vão realizar parcerias com o Brasil no segmento de energia renovável, montar centros de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia, projetos híbridos e de armazenamento de energia.

O Brasil enfrenta problemas de desequilíbrio na geração de energia eólica e solar, e o excesso de geração tem levado à redução forçada. O Ministério de Minas e Energia deve lançar editais para contratação de grandes sistemas de armazenamento em breve.

O titular da Casa Civil disse ainda que as empresas chinesas anunciaram o investimento de US$ 1 bilhão na produção do SAF (combustível sustentável de aviação) a partir do etanol de cana de açúcar. A parceria, segundo ele, envolve formação de engenheiros e de uma cadeia de suprimentos em energia.

Lula deve anunciar com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, acordos de fomento a mais negócios no setor: produção de insumos farmacêuticos com a Nortec, equipamentos de imagem e um novo medicamento com registro na Anvisa.

Há uma nova parceria entre a Sinovac e a Eurofarma, que vai expandir a já existente produção de vacinas para novas frentes, com interesse em transferência de tecnologia para fabricação no País.

A GAC Motor, fabricante de automóveis, também anunciou a ampliação de sua previsão de investimentos no Brasil, agora de US$ 1,3 bilhão.

A empresa vai se instalar em Goiás para começar a montagem de automóveis no País, com ao menos três modelos – dois elétricos e um híbrido. Em 23 de maio, a GAC vai introduzir no mercado brasileiros outros cinco automóveis importados da China.

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Estadão

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