María Corina usou peruca e viajou de barco para chegar a Oslo, diz imprensa dos EUA
O jornal The Wall Street Journal e a CBS News revelaram detalhes da operação secreta que levou María Corina Machado, líder da oposição venezuelana, até Oslo para a cerimônia de entrega do Nobel da Paz desta semana. Escondida em seu país desde janeiro e sem ver os filhos há dois anos, ela foi escolhida como vencedora do prêmio por seus esforços em defesa da democracia na Venezuela.
Segundo a imprensa americana, María Corina precisou se disfarçar para driblar a fiscalização, usando uma peruca e viajando de barco durante parte do trajeto até Oslo. Toda a operação, que incluiu trechos por terra, mar e vias aéreas, teve de ser planejada em apenas quatro dias e contou com uma equipe americana especializada em extração.
A CBS conversou com Bryan Stern, veterano das forças especiais americanas e responsável por liderar a operação. Ele é diretor da Fundação de Resgate Grey Bull, contratada para atuar nas partes terrestre e marítima do resgate.
A missão durou quase três dias. Ela viajou por terra de um subúrbio de Caracas até uma vila de pescadores no litoral caribenho e, depois, seguiu de barco até a ilha de Curaçao – uma travessia marítima de cerca de 12 horas. De lá, embarcou em um jato particular que a levou até Oslo.
A venezuelana se encontrou com Stern no meio do trajeto. Por segurança, o especialista em extração poupou detalhes da missão, como o local exato onde ambos se encontraram e o ponto específico de saída dela da Venezuela.
Ele relatou que o barco enfrentou mar agitado e difícil de navegar, mas que, apesar das ondas de três metros, as condições eram “ideais” para o resgate. “Quanto mais altas as ondas, mais difícil é para o radar enxergar”, disse à CBS. “Mas certamente não era água em que você gostaria de estar”.
Questionado se a operação contou com apoio do governo americano, o diretor da Fundação Grey Bull negou e afirmou que os custos da missão foram financiados por “doadores generosos”.
Contudo, ele disse que foi necessário manter contato com as Forças Armadas e com a inteligência dos Estados Unidos para evitar que o barco fosse alvo do Exército americano. O governo de Donald Trump realiza uma operação militar na região há meses e já bombardeou ao menos 20 embarcações suspeitas de participar do transporte de entorpecentes.
“Primeiro, fiquem de olho em nós. Segundo, não nos matem. Terceiro, se estiverem fazendo algo, avisem para que saiamos do caminho”, relatou Stern ao Wall Street Journal, ao descrever a conversa com as Forças Armadas americanas.
À CBS, ele disse também que, apesar de a vencedora do Nobel estar “muito molhada e com frio”, ela estava “muito feliz”. “Ela é uma mulher durona, de fibra, mas ainda é mãe, e falou sobre a alegria de ver os filhos”. Por conta do exílio, María Corina passou dois anos sem vê-los.
Apesar de a operação ter sido concluída com êxito, a opositora de Maduro não chegou a tempo de participar da cerimônia. À CBS, Stern minimizou a questão: “Pelo menos da minha perspectiva, a vida dela era o aspecto mais importante disso tudo”.
Segundo a apuração do Wall Street Journal, a operação enfrentou imprevistos. Um deles foi uma falha mecânica na embarcação que levou María Corina até o barco de Stern. Conforme o jornal, a necessidade de consertar o motor gerou um atraso na viagem de 12 horas.
Ela não chegou a Oslo a tempo da cerimônia e acabou sendo representada pela filha, Ana Corina Sosa, que recebeu a honraria em seu lugar. María Corina fez uma aparição pública na quinta-feira, 11, e agradeceu a ajuda de todos os que participaram da operação.
“Quantas pessoas arriscaram suas vidas para que eu pudesse chegar a Oslo. Sou muito grata a elas, e isso mostra o quanto esse reconhecimento significa para o povo venezuelano”, disse em postagem publicada nas redes sociais do Nobel.
Oposição
Popular na Venezuela, María Corina Machado estava escondida desde janeiro deste ano devido à perseguição política promovida pelo ditador Nicolás Maduro, a quem faz forte oposição. Ela foi impedida de concorrer às eleições presidenciais de 2024, que foram vencidas por Maduro, apesar da contestação internacional.
Devido ao forte apelo que ela carrega, a extração de María Corina da Venezuela foi a principal missão realizada por Stern, afirmou ele aos jornais. “Todo mundo conhece o rosto dela. Mover María Corina (Machado) é como mover Hillary Clinton.”
O especialista disse que a opositora deseja voltar à Venezuela, apesar de seus conselhos para que não retorne. Questionado se a Fundação Grey Bull a ajudaria nessa reentrada, Stern acredita que não. “Nunca fizemos uma infiltração, apenas uma exfiltração. Então, acho que não. Isso é algo que ela precisa determinar e decidir. Mas acho que ela não deveria voltar. Mas ela quer”, disse à CBS.

