Mauro Vieira contradiz Lula: não houve convite à China para tratar regulação do TikTok
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou nesta terça-feira, 20, que o governo Lula não fez nenhum convite para autoridades chinesas virem ao Brasil para debater regulações de redes sociais, em especial o TikTok. A afirmação contraria a própria declaração do presidente Lula, que disse ter pedido ao líder chinês Xi Jinping para enviar “uma pessoa de confiança” ao País para tratar o assunto.
Vieira foi questionado pelo senador Sergio Moro (União-PR) na Comissão de Relações Exteriores do Senado sobre o episódio protagonizado pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, ao pedir a palavra durante o jantar de Lula com Xi Jinping, em Pequim, e fazer críticas ao Tiktok. O ministro respondeu que Lula pediu auxílio de Janja para tratar o assunto, mas negou ter havido convites. “Não houve convite para nenhuma autoridade chinesa vir, isso não há”, disse.
As críticas de Janja teriam sido referentes a efeitos nocivos de conteúdos veiculados nas redes sociais, em especial contra crianças e adolescentes. Segundo noticiado pelo portal G1, ela também teria dito que o algoritmo da rede social favorece a direita.
Em Pequim, Lula declarou que foi ele quem tocou no tema da regulamentação, ao solicitar a Xi Jinping o envio de uma autoridade para debater a regulamentação das redes, e só então Janja teria pedido a palavra. “A Janja pediu a palavra para explicar o que está acontecendo no Brasil, sobretudo contra as mulheres e as crianças”, disse o presidente.
Mauro Vieira, que estava presente no jantar, relatou que o presidente fez menção ao tema das regulamentações e que pediu auxílio de Janja no tema. “Foi dito o seguinte: não é possível que se deixe que em plataformas digitais que haja a divulgação de temas de pornografia, pedofilia e dos famosos desafios que correm nas redes digitais, que levaram à morte de uma criança de 8 anos há pouco tempo em Brasília por um desafio de inalar desodorante”, disse o ministro.
O fato ganhou notoriedade porque as declarações de Janja durante o jantar teriam quebrado o protocolo diplomático e causado constrangimento nas delegações presentes. A primeira-dama se defendeu durante um evento do Ministério dos Direitos Humanos na segunda-feira, 19, com a alegação de que aproveitou o espaço para tratar o combate à violência sexual contra crianças e adolescentes.
Ela também mencionou os riscos causados pelos desafios que veiculam nas plataformas de redes sociais, que causaram a morte de uma garota de oito anos em Brasília por inalação de desodorante aerosol. “Em nenhum momento eu calarei a minha voz para falar sobre isso. Em nenhum momento, em nenhuma oportunidade. Não há protocolo que me faça calar se eu tiver uma oportunidade de falar sobre isso com qualquer pessoa que seja, do maior grau ao menor grau, do mais alto nível a qualquer cidadão comum”, disse Janja.
Na audiência desta terça-feira, Vieira defendeu a regulamentação das plataformas digitais, mas disse que somente depois o Brasil deveria tratar o assunto com o governo chinês. “Tem que haver algum tipo de controle, não se pode deixar, afinal de contas, as plataformas que veiculam isso [conteúdos impróprios] têm que ter algum tipo de responsabilidade”, declarou. “Foi nesse sentido – única e exclusivamente – que se mencionou a questão na China.”