Moraes ameaça prender Aldo Rebelo, que acusou o ministro de ‘censura’

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ameaçou nesta sexta-feira, 23, prender o ex-ministro Aldo Rebelo depois de um bate-boca entre os dois, durante depoimento do ex-titular da Defesa na ação penal do golpe. Rebelo, que foi ouvido como testemunha de defesa do ex-comandante da Marinha Almir Garnier, tinha dito que a frase do almirante – sobre “deixar à disposição” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) as tropas em caso de uma tentativa de golpe – “não pode ser tomada literalmente”.

“É preciso levar em conta que, na língua portuguesa, usamos a força da expressão. A força da expressão nunca pode ser tomada literalmente. Quando alguém diz ‘estou frito’ não quer dizer que está numa frigideira”, afirmou Rebelo. O ex-ministro, então, foi repreendido por Moraes. “O senhor estava na reunião quando o almirante Garnier falou essa expressão?”, perguntou o ministro. Rebelo respondeu negativamente. “Então, o senhor não tem condição de avaliar a língua portuguesa naquele momento. Atenha-se aos fatos”, disse Moraes.

“A minha apreciação da língua portuguesa é minha e não admito censura”, retrucou Rebelo. Moraes então ameaçou prender o ex-ministro. “Se o senhor não se comportar, o senhor vai ser preso por desacato”, afirmou o magistrado. Houve ainda mais entreveros durante a audiência. A defesa de Garnier, feita pelo advogado Demóstenes Torres, perguntou se a Marinha teria condições para dar um golpe de Estado. Moraes, então, fez uma advertência.

“Aldo Rebelo é um historiador, é uma pessoa inteligente. Ele sabe que em 64 não foi ouvida toda a cadeia de comando para se dar o golpe militar. Não podemos fazer conjecturas fora da realidade. Não pode perguntar algo que ele não tem conhecimento técnico. Ele é um civil, que foi ministro da Defesa, mas é um civil”, afirmou Moraes.

Mourão

O ex-vice-presidente da República e senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) disse, em seu depoimento também ontem ao Supremo, que desconhece a tentativa de golpe e culpou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva pela desordem em Brasília em 8 de janeiro de 2023. Mourão é testemunha do general Augusto Heleno, do ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, do ex-presidente Jair Bolsonaro e do general Walter Braga Netto no processo em que o ex-chefe do Executivo é acusado de tentativa de golpe de Estado.

Na audiência, Mourão disse que não participou de nenhuma reunião que tenha envolvido alguma intentona golpista e afirmou não ter falado sobre o Peru, que vivia uma tentativa de autogolpe, em 2022. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, perguntou a Mourão se ele achava que Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator, era “mentiroso”, já que o tenente-coronel também tinha falado sobre a conversa. “Não, não posso dizer que ele era mentiroso, até porque não tive acesso ao que ele disse”, respondeu o senador.

O diálogo em questão, segundo as investigações, foi entre tenente-coronel do Exército Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, alvo da Operação Tempus Veritatis, e Mauro Cid. Cavaliere encaminhou para Mauro Cid quatro prints de uma conversa com o interlocutor de nome Riva. Nas mensagens, Riva encaminha o que seriam informações de uma reunião entre Bolsonaro e o ex-vice-presidente Hamilton Mourão e outros generais. Riva afirma que Mourão negociou com outros generais a saída do Jair Bolsonaro, chamado de “01”.

‘Traidor’

Ele foi responsável pelo último discurso da gestão Bolsonaro, quando fez um pronunciamento em rede nacional no dia 31 de dezembro de 2022 e foi vaiado por bolsonaristas e chamado de “traidor” no acampamento no Quartel-General do Exército. Nesse discurso, Mourão, presidente em exercício, pediu que bolsonaristas lutassem “pela preservação da democracia” e que voltassem “à normalidade”. Sem mencionar nomes, Mourão destacou o “silêncio” de “lideranças” que afetou a imagem das Forças Armadas.

Gonet esquece microfone aberto e afirma que fez ‘cagada’

Pensando ter o microfone silenciado, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, reconheceu que fez uma pergunta fora de tom para Aldo Rebelo. Ele perguntou se o ex-ministro acreditava que, sem adesão do Exército, a Marinha teria condições de promover uma ruptura. A defesa do ex-comandante da Marinha Almir Garnier reclamou do que seria uma pergunta opinativa. O áudio de Gonet escapou. “Fiz uma cagada”, afirmou ele.

Rebelo afirmou que Garnier não poderia mobilizar tropas da Marinha sozinho. Também disse que, sem a capilaridade do Exército, essa Força não seria capaz de consolidar um golpe de Estado no Brasil. A sessão de ontem também teve o depoimento do comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, outra testemunha de Garnier. Nesta quinta, 22, Olsen pediu para ser dispensado porque “desconhece os fatos objeto da ação penal”. A defesa de Garnier, porém, pediu para manter a audiência por entender que poderia ser esclarecedor, o que foi atendido pelo ministro Alexandre de Moraes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Estadão

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