Pastor suspeito de operar call center que cobrava por ‘milagres’ é alvo de operação

Um pastor suspeito de manter um call center para vender curas e milagres por até R$ 1,5 mil foi alvo de uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro, nesta quarta-feira, 24, em Niterói.
Segundo as investigações, o esquema operado por Luiz Henrique dos Santos Ferreira, o Pastor Henrique Santini ou Profeta Santini, movimentou ao menos R$ 3 milhões em dois anos.
Ferreira foi detido e liberado com o uso de tornozeleira eletrônica. Outros 22 integrantes do grupo foram indiciados. A reportagem busca contato com a defesa de Ferreira. À polícia, ele disse ser vítima de perseguição religiosa.
Os agentes da “Operação Blasfêmia” localizaram a central de marketing no centro de Niterói, cidade vizinha ao Rio. A ação cumpriu mandados de busca e apreensão em decorrência de um inquérito da 76ª Delegacia de Policia que apurou os crimes de estelionato, charlatanismo, curandeirismo, associação criminosa, crime contra a economia popular, corrupção de menores e lavagem de dinheiro.
“O que realmente motivava o grupo criminoso não era o atendimento religioso, mas a exploração financeira da fé, sem nenhum escrúpulo”, diz o delegado Luiz Henrique Marques Pereira, titular da delegacia.
As investigações revelaram uma estrutura sofisticada de telemarketing religioso, onde dezenas de atendentes eram contratados por meio de anúncios em plataforma on-line de vendas. Os selecionados, sem qualquer vínculo religioso com a instituição, eram orientados a se passarem pelo líder religioso durante atendimentos via WhatsApp.
Durante as conversas com as vítimas, os atendentes simulavam ser o pastor de uma igreja de São Gonçalo, utilizando áudios previamente gravados com promessas de curas e milagres, condicionadas à realização de transferências bancárias via Pix. Os valores cobrados variavam entre R$ 20 e R$ 1,5 mil, conforme o “tipo de oração” oferecida.
Para dar vazão ao grande volume de arrecadações, o grupo se utilizava de uma rede de contas bancárias registradas em nome de terceiros, dificultando o rastreamento das movimentações financeiras. Os atendentes eram remunerados por comissões proporcionais à arrecadação semanal e submetidos a metas rígidas de desempenho. Aqueles que não atingiam o valor mínimo estipulado eram dispensados.
O delegado lembra que a atuação de líderes religiosos na arrecadação de dízimos e ofertas é permitida pelo princípio da liberdade religiosa, garantida pela Constituição. “No entanto, quando essa arrecadação ocorre por meio de fraude, ultrapassa o campo da fé, sendo considerada conduta criminosa”, diz.
A investigação teve início em fevereiro deste ano, quando a polícia identificou a existência de um call center, onde foram flagradas 42 pessoas realizando atendimentos virtuais. Na ocasião, 52 telefones celulares, 6 notebooks e 149 cartões pré-pagos de telefonia móvel foram apreendidos. A análise desse material confirmou a atuação coordenada do grupo e permitiu identificar milhares de vítimas em todo o território nacional.
Durante a apuração, foi realizada também investigação financeira, que identificou movimentações superiores a R$ 3 milhões em um período de dois anos. Com base nos elementos colhidos, foram decretados o sequestro de bens e o bloqueio de contas bancárias dos investigados, bem como de empresas a eles vinculadas.
Nas diligências desta quarta, os policiais encontraram uma grande quantidade de dinheiro em espécie na residência do pastor, como 32,4 mil reais, 1.800 euros, 750 libras egípcias e 90 dólares.
Em sua página no Instagram, onde de denomina Profeta Henrique Santini, o investigado se apresenta como pastor e criador de conteúdos com mais de 9 milhões de seguidores nas redes sociais. Nas postagens, ele se dirige a seguidores, dizendo: “Você acaba de cair na bênção da prosperidade”, ou “O telefone vai tocar e uma notícia muito aguardada vai chegar. Alegria para o seu coração. Confirme digitando Amém.”
Nessa primeira fase, o pastor e outros 22 integrantes do grupo foram denunciados. Além disso, foi deferida medida cautelar de monitoramento por tornozeleira eletrônica em face do pastor. Conforme a Polícia Civil, as investigações seguem com o objetivo de identificar novas vítimas e eventuais participantes da organização criminosa.