Petlove pede que Cade condicione aprovação da fusão Petz-Cobasi à alienação de ativos
A Petlove apresentou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) uma petição na qual defende que a eventual aprovação da fusão entre Petz e Cobasi seja condicionada à adoção de um “remédio estrutural robusto”, com alienação de ativos “suficientes para criar um concorrente viável e independente”. Inicialmente, a Petlove vinha pleiteando a reprovação da operação, posição que foi modificada na petição datada de 12 de novembro.
Em razão dos prazos processuais, o tribunal do Cade deverá analisar a operação ainda em 2025, em uma das duas sessões previstas para este ano – 26 de novembro e 10 de dezembro.
Terceira interessada, a Petlove defendeu que o desinvestimento deve abarcar lojas (com a venda de 105 a até 132 estabelecimentos), marca, centros de distribuição, estoques, equipes e dados de clientes, assegurando a transferência de um business unit “completo e operacionalmente autônomo, apto a replicar a disciplina competitiva hoje exercida por uma das requerentes”.
“Medidas comportamentais complementares são igualmente necessárias para conter o poder de compra”, completou a concorrente.
O ex-superintendente e ex-conselheiro do Cade Carlos Ragazzo, que atua pela Petlove perante o Cade, apresentou um estudo no qual sustenta que Petz e Cobasi só rivalizam entre elas e são as únicas empresas com alcance nacional, com forte sobreposição de tráfego digital e público-alvo.
“Canais alternativos, como pet shops de bairro, supermercados, agrolojas e marketplaces não exercem pressão competitiva efetiva sobre as megastores, dada a ausência de escala, densidade e capacidade tecnológica. Além disso, o setor apresenta barreiras à entrada elevadas, sustentadas pela força de marca, capilaridade logística e um contexto de desaceleração que reduz oportunidades de expansão e contestabilidade”, justificou o advogado.
Ragazzo também entendeu que a venda de uma das duas marcas é “a única solução estrutural capaz de restaurar a concorrência, recriando um rival de escala e visibilidade comparável, e assegurando que o mercado de varejo pet permaneça plural e inovador”.
No documento, o ex-integrante do Cade alegou ainda que não seria a primeira vez que remédios estruturais nessa linha são adotados e citou dois exemplos. No primeiro, referente à operação Sadia-Perdigão, o Cade impôs a venda de ativos no valor de quase R$ 3 bilhões, incluindo marcas, além da suspensão de marcas mais relevantes, a fim de possibilitar a entrada de novos players. Já no segundo caso, Localiza-Unidas, a autarquia determinou o desinvestimento de parte relevante da frota e da marca Unidas, visando manter uma rivalidade efetiva no mercado de locação de veículos.
Área técnica aprovou operação
A operação Petz-Cobasi foi aprovada sem restrições pela Superintendência-Geral (SG), área técnica do órgão concorrencial, no início de junho deste ano. O superintendente Alexandre Barreto avaliou que o setor é muito grande, com muitos concorrentes, e foi identificado que a fusão não representaria um problema concorrencial que exigisse algum tipo de remédio.
Dias depois, a Petlove apresentou um recurso, o que levou o caso para o tribunal administrativo. A empresa sustentou que o Cade ignorou as diferenças de escala entre as megastores de Petz e Cobasi e os pequenos pet shops de bairro, “o que resulta em diferenças de preços, portfólio de produtos e estratégias competitivas”.
Petz e Cobasi, por sua vez, alegaram que o mercado de varejo pet é “altamente competitivo e pulverizado”. As requerentes consideraram não haver riscos de aumento de preços em decorrência da operação, “pois os demais players consistem em força disciplinadora de preços no mercado, sendo capazes de exercer pressão competitiva e absorver eventual desvio de demanda”.
O Acordo de Associação estabelece a combinação de negócios entre as duas empresas, que será implementada por meio da incorporação das ações da Petz pela Cobasi. Em decorrência da operação, a Petz se tornará subsidiária integral da Cobasi. Os acionistas da Petz receberão 52,6% das ações da nova empresa e os acionistas da Cobasi, 47,4%. A empresa criada deverá ter R$ 7 bilhões em faturamento no varejo pet.
O acordo de fusão foi anunciado em agosto de 2024 sob a justificativa de que a operação tinha por objetivo “permitir que as empresas tenham capacidade de reduzir preço ao consumidor, proporcionar um melhor atendimento e um portfólio mais completo de produtos e serviços a seus clientes, por meio da combinação do parque de lojas e e-commerce, aumentando a capilaridade de pontos de venda e de entregas”.

