PF mira reduto de Elmar; primo tinha dinheiro escondido em sapatos

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Em uma nova fase da Operação Overclean – que apura a suspeita de um esquema de desvio milionário de emendas parlamentares e fraudes licitatórias -, a Polícia Federal realizou nesta quinta-feira, 17, buscas em endereços de Salvador e na cidade de Campo Formoso (BA), reduto eleitoral do deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil-BA). No município da região norte da Bahia, os agentes federais encontraram ao menos de R$ 10 mil em espécie escondidos dentro de um par de sapatos do vereador Francisco Manoel do Nascimento Neto (União Brasil), primo de Elmar.

O prefeito de Campo Formoso, Elmo Nascimento (União Brasil) – irmão de Elmar – também foi alvo da operação. O principal objetivo da PF é apurar irregularidades em convênios firmados entre a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) e o município. Os convênios foram firmados em 2022 a partir do envio de emendas direcionadas pelo deputado federal. Segundo a PF, Elmo teria participado de encontros na superintendência da Codevasf e com o representante da empresa que venceria a licitação municipal.

A ação – 5.ª fase da Operação Overclean – foi autorizada pelo ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele determinou o bloqueio de R$ 85,7 milhões em contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas investigadas. Um servidor público (não identificado) foi afastado cautelarmente das suas funções.

A ação conjunta entre a PF, a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Receita Federal cumpriu 18 mandados de busca e apreensão na capital baiana, em Campo Formoso e nas cidades de Senhor do Bonfim (BA), Petrolina (PE), Mata de São João (BA) e Brasília. Elmar Nascimento é investigado pela PF, mas não foi diretamente alvo das buscas realizadas ontem.

Francisquinho

Conhecido como Francisquinho Nascimento, o primo do deputado federal já havia protagonizado, em dezembro de 2024, uma cena emblemática da investigação ao tentar se livrar de R$ 220 mil em espécie pouco antes de ser preso. Na ocasião, cercado pela PF, o vereador arremessou pela janela do apartamento onde mora uma sacola com o dinheiro.

Ao registrar candidatura, em 2024, ele declarou que tinha um patrimônio de R$ 40 mil em dinheiro vivo, além de US$ 1,5 mil e € 2,5 mil também em espécie. Em contas bancárias, segundo a declaração de bens à Justiça Eleitoral, havia cerca de R$ 14 mil.

O vereador informou ainda a posse de uma casa financiada, pela qual ele teria pago R$ 112 mil até então, e de R$ 25,5 mil em participações de um laboratório de análises clínicas. Antes de ser vereador, Francisquinho foi secretário executivo da prefeitura de Campo Formoso, na gestão de Elmo.

Mais de cem pessoas, entre empresários, políticos e servidores públicos, estão na mira da PF por suspeita de envolvimento no esquema investigado na Overclean.

Alvos

Segundo apurou o Estadão, também foram realizadas buscas nos endereços de Marcelo Andrade Moreira Pinto, ex-presidente da Codevasf; Francisco Manoel do Nascimento Neto, vereador em Campo Formoso e primo de Elmo e Elmar; Amaury Albuquerque Nascimento, ex-assessor de Elmar; além de um pregoeiro do município e dois empresários do setor da construção civil na Bahia.

Dezenas de codinomes mencionados em planilhas apreendidas nas primeiras fases da investigação, deflagradas em dezembro de 2024, estão sendo gradativamente decifrados. A informação consta de relatório parcial da investigação enviado ao ministro Nunes Marques, que assumiu a relatoria do inquérito em janeiro, quando o caso foi remetido ao Supremo após mensagens que faziam citação a Elmar Nascimento.

Amaury Nascimento, ex-assessor do deputado, foi desligado do gabinete parlamentar após ser citado na Overclean. Ele exerceu o cargo de secretário parlamentar entre 8 maio de 2024 e 2 de fevereiro de 2025. O nome do assessor consta em uma planilha que, segundo a PF, era usada por empresários para o “controle de pagamento por vantagens indevidas”. O arquivo seria uma espécie de contabilidade das propinas do suposto esquema de desvio de emendas parlamentares.

Elmar já negou ligação com irregularidades. O Estadão tentou contato ontem com o parlamentar, mas ele não se manifestou. Outros citados também não comentaram.

Amaury negou que o pedido de exoneração tenha relação com a investigação. “Até porque nunca foi intimado para prestar nenhum esclarecimento. Não tenho ciência formal de nada que me vincule a esta investigação”, afirmou na ocasião.

‘Suporte’

A Codevasf informou que “mantém compromisso com a elucidação dos fatos e com a integridade de suas ações – e continuará a prover suporte integral ao trabalho das autoridades policiais e da Justiça”.

“A companhia mantém convênios para transferência de recursos com o município mencionado no contexto da operação. Em convênios, cabe ao órgão convenente – nesse caso, a prefeitura – realizar a licitação, a contratação e a execução das obras correspondentes. A Codevasf não participa de procedimentos licitatórios e não mantém relação com empresas eventualmente selecionadas por municípios para execução de convênios”, diz a companhia.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Estadão

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