Roupas camufladas na mata: imagens da operação no Rio mostram como o CV usa tática de guerra
Fotos e vídeos da recente operação do governo do Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho (CV), tanto do dia da ação quanto do pós, dão indícios de como a facção criminosa usa tática de guerra, de uniformes a armas, em seu planejamento.
A ofensiva conjunta entre as polícias Civil e Militar contra o Comando Vermelho, realizada na terça-feira, 28, teve 121 mortos, inclusive quatro policiais. Foram presas 113 pessoas, de acordo com balanço do governo do Rio. O governador Cláudio Castro (PL) disse que a operação foi um “sucesso”; a Defensoria Pública Estadual fala em indícios de ilegalidades.
Uniformes do Comando Vermelho
Fotos e vídeos da operação mostram membros do CV com usando itens de vestuário como roupas camufladas, coturno e balaclava. Um dos suspeitos presos na megaoperação chegou a usar o Instagram para compartilhar uma foto em que aparece sem camisa, com um fuzil pendurado no ombro, luvas e uma touca preta.
Arsenal
Em reação à ofensiva policial, o CV usou drones adaptados para lançar bombas. A tática repete estratégias usadas em guerra como a da Ucrânia e a da Faixa de Gaza e revela o novo estágio de sofisticação das facções, conforme especialistas em segurança pública ouvidos pelo Estadão.
Além dos drones, o arsenal das facções criminosas inclui armamento cada vez mais pesado – com a descoberta pelas autoridades até de fábricas clandestinas de fuzis, com uso de matéria-prima importada -, câmeras termográficas para monitorar a movimentação de alvos e bloqueadores de GPS.
Os equipamentos usados costumam ser drones comerciais do tipo FPV (First Person View), facilmente adquiridos pela internet por valores entre R$ 3 mil e R$ 10 mil. Apesar de simples, são capazes de transportar cargas de até meio quilo, o que já é suficiente para carregar uma granada de mão.
A cúpula da segurança pública do Rio de Janeiro divulgou na tarde de quarta, 29, um balanço da operação. Veja os demais números divulgados pelo governo:
– Presos: 113, dos quais 33 são de outros Estados
– Adolescentes apreendidos: 10;
– Armas: 118, sendo 90 fuzis e 26 pistolas e um revólver;
– 14 artefatos explosivos;
– Centenas de carregadores – ainda não contabilizados;
– Milhares de munições – ainda não contabilizadas;
– Toneladas de drogas – ainda não contabilizadas;
Geografia acidentada
Mais de 110 mil pessoas moram nas regiões dos complexos do Alemão e da Penha, alvos da megaoperação policial. De acordo com dados da prefeitura, com base no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 54 mil pessoas vivem no conjunto de favelas que formam o Complexo do Alemão. Já na Penha, são 58.516 moradores (esse número é referente a todo o bairro, e não apenas ao complexo de favelas).
A geografia acidentada do Complexo do Alemão facilitou a concentração de criminosos do Comando Vermelho no local e, ao longo das últimas décadas, a polícia já fez várias incursões na área. “São aproximadamente 9 milhões de metros quadrados de desordem. Casas construídas de forma irregular, becos que é impossível fazer o patrulhamento”, disse Victor Santos, secretário da Segurança Pública do Rio.
O dia seguinte: o que disseram moradores
No dia seguinte à ação, moradores recolheram dezenas de corpos em uma área de mata na Serra da Misericórdia pela comunidade do Complexo da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro. Alguns destes corpos estavam amarrados e com marcas de facadas. O Estadão presenciou ainda ao menos um corpo decapitado. Segundo a associação de moradores da Penha, 72 corpos foram levados à Praça São Lucas.
Uma parente de um dos mortos, que preferiu não ser identificada, afirmou ao Estadão que havia corpos com “sinais de tortura”, como cortes de faca e decapitados.
“Fizeram um necrotério lá dentro da favela: abriram os corpos como se fossem médicos”, relatou outra familiar.
O dia seguinte: o que disse o governo
O governo fluminense defendeu o “sucesso” da ofensiva em avançar sobre um território dominado pelo crime organizado. Cláudio Castro disse na quarta-feira, 29, que as únicas vítimas da megaoperação são os agentes de segurança mortos. “Aquelas foram as verdadeiras quatro vítimas. De vítimas, ontem, só tivemos os quatro policiais”.

