Taxas de juros curtas encerram dia de lado e demais têm leve queda com exterior benigno
Os juros futuros negociados na B3 exibiram dinâmica distinta em boa parte da segunda etapa do pregão desta quarta-feira, 26, com persistência do viés de alta nos vértices curtos e baixa um pouco mais pronunciada a partir do miolo da curva. Na reta final dos negócios, porém, a parte curta perdeu ímpeto.
Enquanto o IPCA-15 de novembro ligeiramente acima do esperado influenciou alguma correção para cima nas taxas de curto prazo, os vencimentos de janeiro de 2029 para frente encontraram espaço adicional para ceder em meio ao ambiente externo de maior apetite a risco e apoiados também pela queda do dólar ao longo da sessão.
Agentes ainda apontaram possível influência de declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre as taxas intermediárias e longas, que chegaram a tocar mínimas intradia enquanto ele concedia entrevista, por volta das 14h40. O dólar à vista também acentuou a desvalorização no mesmo horário. À Globonews, Haddad afirmou que a equipe econômica não fará exceção no arcabouço fiscal para solucionar a crise nos Correios, que não deve ser privatizado.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 oscilou de 13,504% no ajuste de terça para 13,51%. O DI para janeiro de 2029 caiu de 12,737% no ajuste anterior para 12,705%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,015%, vindo de 13,098% no ajuste precedente.
Publicada pelo IBGE, a prévia da inflação oficial passou de 0,18% em outubro para 0,20% na leitura atual, pouco acima da mediana do Projeções Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, que previa taxa igual à do mês anterior. O número trouxe sinais mistos: enquanto casas como o Santander avaliaram que as surpresas de alta foram mais concentradas em itens voláteis e o processo de desinflação segue em curso, outro grupo viu alguma piora qualitativa no número.
Para o economista Alexandre Maluf, da XP, a perda de fôlego dos preços persiste. Mas há indicativos contraditórios no resultado, que devem manter o mercado dividido sobre quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve dar início ao ciclo de redução da Selic – em janeiro ou março.
Maluf ressaltou que a desaceleração inflacionária segue sustentada principalmente por alimentos e bens industriais. Na outra ponta, os serviços continuam resilientes. Em seus cálculos, a inflação dos serviços intensivos em mão de obra avançou de 6,8% para 7,3% entre outubro e novembro, pelo critério da média móvel trimestral anualizada e dessazonalizada.
Segundo Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, o dado divulgado pouco altera o quadro geral de atividade e inflação, e a discreta alta dos DIs curtos foi em grande parte uma correção do movimento de terça. No pregão anterior, a afirmação do diretor de Política Monetária do BC, Nilton David, de que aumentar os juros não está mais no cenário-base da autarquia, e de que a questão é entender quando será o processo de cortes, provocou queda firme nas taxas de curto prazo.
“A empolgação com essa fala, a meu ver, foi exagerada. Ele a rigor não falou nada que já não estivesse na comunicação oficial do BC”, disse Olivares, que segue trabalhando com março como começo do ciclo de afrouxamento monetário. Sobre a queda no restante da extensão da curva futura desta quarta, Olivares aponta que, com a manutenção do tom conservador pelo BC, há reflexo de baixa também nas taxas intermediárias e longas. “Quanto mais o BC adia o início dos cortes, mais a parte média e longa fecha. O BC pode cortar mais e com maior segurança”.
Economista-chefe da Equador Investimentos, Eduardo Velho afirmou que o maior otimismo do mercado com a possibilidade de redução do juro pelo Fed em dezembro, assim como o comportamento benigno do dólar, ajudaram a segurar as taxas a partir do meio da curva. Assim, disse, a aprovação na terça, pelo Senado da “pauta-bomba” de aposentadorias especiais para agentes de saúde, que eleva o risco fiscal, ficou em segundo plano.

