Taxas futuras de juros sobem em sintonia com mercado externo
A dois dias da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) que deve manter a Selic nos atuais 15%, os investidores deixaram em segundo plano a leve melhora das expectativas inflacionárias, em um dia de agenda enxuta de indicadores locais, e os juros futuros negociados na B3 subiram seguindo a tendência do exterior, a despeito da queda de 0,43% do dólar na sessão.
Após duas semanas de redução mais contundente das estimativas de inflação, o movimento observado no boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 3, foi mais tímido, o que reforçou a percepção de grande parte dos analistas de que o Banco Central ainda não vai suavizar a comunicação conservadora no encontro da quarta-feira.
Já lá fora, as incertezas trazidas pela continuidade do shutdown nos Estados Unidos e sobre qual será a definição de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em dezembro mantiveram os Treasuries em firme elevação. A abertura da curva americana, na visão de agentes, foi o principal impulsionador das taxas futuras por aqui.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 aumentou de 13,849% no ajuste de sexta-feira para 13,875%. O DI para janeiro de 2029 oscilou de 13,075% no ajuste antecedente a 13,080%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,375%, vindo de 13,351% no ajuste.
No mesmo horário, a taxa da T-Note de 2 anos avançava a 3,598%, e a de 10 anos, a 4,107%. Neste trecho da curva, pesaram mais as dúvidas sobre se o Fed vai afrouxar a política monetária em dezembro, avalia Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, mas o rendimento do título soberano de 30 anos também abria, a 4,688%.
“Os efeitos do shutdown sobre a política agrícola e o agravamento dos impactos da paralisação, pela cegueira estatística e consequências na distribuição de recursos, elevam as incertezas”, diz Sanchez. Já sobre os títulos dos EUA com vencimentos curtos e intermediários, o economista destaca o aparente dissenso no Comitê de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês), sobre a próxima decisão de juros do Fed.
Após o presidente da autarquia, Jerome Powell, ter esfriado apostas de mais uma redução em dezembro, diretores como Christopher Waller e Stephen Miran mantêm uma linha mais ‘dovish’, observa o economista. De outro lado, a diretora Lisa Cook disse nesta segunda que a política de juros “não está em trajetória predeterminada”. Devido ao shutdown, Cook comentou que a última reunião de 2025 do FOMC vai considerar dados econômicos atualizados.
No cenário local, o boletim Focus desta segunda trouxe novo ajuste das expectativas inflacionárias, mas mais discreto do que nas duas semanas anteriores. A projeção para o aumento do IPCA deste ano caiu 0,01 ponto, para 4,55%, mais próxima do teto da meta de inflação, de 4,5%. A previsão para 2026 ficou em 4,2%, e para 2027 e 2028, diminuiu de 3,82% a 3,80% e de 3,54% para 3,50%, respectivamente.
Gestor de renda fixa da Inter Asset, Ian Lima pondera que, a despeito da melhora inequívoca das expectativas do Focus, que já sugere uma reancoragem parcial das projeções do mercado, assim como um quadro qualitativo de inflação corrente bastante benigno e condizente com a eficácia da atual política restritiva, o comunicado da reunião de quarta-feira do Copom deve permanecer conservador e com poucas alterações ante o último documento.
“O Copom deve manter a Selic em 15%, como amplamente esperado pelo mercado, e com a comunicação reforçando a estratégia de manutenção nesse patamar por um ‘período bastante prolongado’, diante da persistente desancoragem das expectativas ainda presente”, avalia Lima, que mantém a perspectiva para o primeiro corte do juro básico em janeiro, com a taxa em 12,25% ao final de 2026. O gestor avalia, no entanto, que a probabilidade de que a redução seja postergada avançou.

  