Há mais de um século
Os cadernos de Marie Curie, usados nas pesquisas que levaram à descoberta do polônio e do rádio, continuam radioativos mais de um século depois. Guardados na Biblioteca Nacional da França, eles só podem ser acessados com proteção especial devido ao alto risco de contaminação

Se você pensa que o perigo de um livro é só dar sono ou cair na sua cabeça da prateleira, é porque nunca ouviu falar dos cadernos de Marie Curie. Esses registros, usados pela cientista polonesa entre o final do século XIX e o início do XX, são tão radioativos que, mesmo mais de 100 anos depois, ainda precisam ser guardados como se fossem artefatos nucleares — e, de fato, eles praticamente são.
Marie Curie (1867-1934) não só foi a primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel como também a única pessoa a receber dois Nobéis em áreas diferentes: Física e Química. Ao lado do marido, Pierre Curie, ela descobriu dois elementos químicos, o polônio e o rádio, abrindo caminho para pesquisas que revolucionaram a ciência… mas também expuseram seu corpo a níveis altíssimos de radiação, numa época em que ninguém tinha ideia dos riscos. Luvas? Máscaras? Aventais de chumbo? Nada disso estava no manual científico da época.
O resultado dessa ousadia é que, além de seus experimentos terem sido fatais para ela — Marie morreu em 1934 vítima de anemia aplástica, causada pela radiação —, tudo que esteve em contato com seu trabalho, incluindo os cadernos, continua emitindo radiação perigosa. Tão perigosa que eles ficam guardados na Biblioteca Nacional da França, envoltos em caixas de chumbo, e só podem ser manuseados por quem tiver autorização especial e roupa de proteção digna de filme de ficção científica.
Seus cadernos são um verdadeiro “diário radioativo”: anotações, fórmulas, cálculos e observações que mudaram a história da ciência. É como se fossem o grimoire de um feiticeiro — só que, no caso, a “magia” é ciência pura, e o feitiço pode render uma boa dose de radiação se você não tomar cuidado.
Hoje, eles servem como testemunho histórico dos riscos que os pioneiros da ciência enfrentaram e também como alerta sobre a importância da segurança em laboratório. Afinal, o conhecimento pode iluminar… mas, no caso de Marie Curie, ele também literalmente brilha no escuro.