Homem é acusado de homicídio culposo após namorada morrer congelada durante escalada na Áustria
Promotores acusam alpinista experiente de negligência após morte da companheira, que tentou alcançar o ponto mais alto da Áustria sem preparo adequado e em condições climáticas extremas

Um homem de 36 anos foi oficialmente acusado de homicídio culposo após a morte por congelamento de sua namorada, de 33 anos, durante uma tentativa de escalada ao Grossglockner, o ponto mais alto da Áustria, com 3.799 metros de altitude. O caso ocorreu em condições climáticas severas e ganhou grande repercussão na mídia europeia.
Segundo informações divulgadas pelo jornal austríaco Kronen Zeitung, a vítima não tinha experiência em montanhismo de alta altitude. Mesmo assim, de acordo com os promotores, ela teria sido incentivada pelo namorado a seguir até o trecho final da subida, apesar de apresentar sinais claros de exaustão e hipotermia. As autoridades afirmam que a mulher foi deixada “desprotegida, exausta e hipotérmica” a cerca de 45 metros do cume.
No dia da escalada, o casal enfrentou ventos de até 74 quilômetros por hora e sensação térmica próxima de -20 °C. A investigação aponta que a mulher utilizava equipamentos inadequados para o ambiente alpino, incluindo botas impróprias para gelo e altitude, além de uma prancha de snowboard adaptada. Os dois também teriam iniciado a subida com atraso e sem um kit básico de emergência.
Promotores afirmam ainda que o acusado, descrito como alpinista experiente e morador de Salzburgo, não avaliou corretamente os riscos crescentes com o avanço da noite. De acordo com a acusação, ele deixou de acionar o resgate no momento crítico, mesmo diante do agravamento do estado físico da companheira.
A reconstituição do caso foi feita a partir de dados digitais extraídos de celulares, relógios esportivos, fotos e vídeos registrados durante a escalada. Esses elementos permitiram traçar a linha do tempo da tragédia. Conforme a apuração, um helicóptero da polícia chegou a sobrevoar a área por volta das 22h50, mas o homem não pediu ajuda. O pedido de resgate só teria sido feito às 3h30 da madrugada.
As equipes de busca alcançaram o local por volta das 10h da manhã seguinte, quando a mulher já estava morta. O Ministério Público sustenta que o acusado falhou em protegê-la do frio extremo, não oferecendo abrigo adequado, isolamento térmico ou medidas para conter a perda de calor corporal.
A defesa do alpinista, representada pelo advogado Kurt Jelinek, afirma que o caso se trata de um “acidente trágico”, destacando que situações imprevisíveis podem ocorrer em ambientes de alta montanha. Apesar disso, os promotores sustentam que houve negligência decisiva para o desfecho fatal.
O julgamento está marcado para 19 de fevereiro do próximo ano, no Tribunal Regional de Innsbruck. Se condenado, o homem pode enfrentar pena de até três anos de prisão, conforme a legislação austríaca para homicídio culposo.
A tragédia reacendeu debates sobre segurança no montanhismo, especialmente em rotas de alta altitude. Especialistas alertam que falta de preparo, equipamentos inadequados e decisões tomadas sob pressão podem aumentar drasticamente os riscos, mesmo para pessoas experientes. O caso segue repercutindo tanto pelo impacto humano quanto pelas implicações legais e éticas envolvendo esportes de aventura em ambientes extremos.

