Matemática confirma: é possível enxergar a curvatura da Terra durante um voo comercial
Cálculos mostram que passageiros a 10 ou 12 km de altitude conseguem perceber uma leve curvatura no horizonte, reforçando evidências científicas sobre a forma esférica do planeta

A discussão sobre a forma da Terra atravessa séculos, e a ciência acumula evidências sólidas de que o planeta é esférico. Desde a Antiguidade, observadores como Aristóteles já registravam sinais claros dessa geometria — como o desaparecimento gradual de navios no horizonte e o formato da sombra terrestre durante eclipses lunares. No século III a.C., Eratóstenes conseguiu até estimar a circunferência do planeta com surpreendente precisão, calculando cerca de 40 mil quilômetros.
Apesar do consenso científico, ainda há quem questione a esfericidade da Terra. Mas fenômenos simples continuam a fornecer respostas diretas. A posição das estrelas, por exemplo, varia conforme a latitude, algo perceptível mesmo entre cidades relativamente próximas, como Granada e Santander, na Espanha.
Na Idade Média, ao contrário do imaginário popular, a ideia de uma Terra plana não dominava o pensamento acadêmico. Registros históricos mostram que estudiosos do século XIV já explicavam com clareza a curvatura terrestre, especialmente durante eclipses lunares, quando a sombra projetada no satélite revela contornos arredondados. Esse conhecimento, inclusive, influenciou expedições marítimas — como a de Cristóvão Colombo, que partiu da premissa de um globo, embora seus cálculos fossem equivocados.
Mas por que não percebemos a curvatura no dia a dia? O tamanho colossal do planeta, somado à irregularidade do relevo, dificulta a observação direta. Na maior parte do tempo, elementos próximos dominam nosso campo de visão, mascarando o formato real da Terra.
Mesmo assim, voos comerciais já permitem um vislumbre dessa curvatura. A matemática ajuda a entender por quê. Segundo o pesquisador Juan Antonio Aguilar Saavedra, a distância até o horizonte pode ser calculada pelo teorema de Pitágoras, usando o raio terrestre (6.370 km) e a altitude do avião:
d = √(2Rh)
A 10 km de altitude, o horizonte visível alcança aproximadamente 357 km. A 12 km, chega perto de 391 km. Isso significa que, de dentro de um avião, observamos uma porção imensa da superfície terrestre — o suficiente para que a curvatura comece a ser perceptível.
A visibilidade também depende do campo de visão. Lentes de celulares, por exemplo, registram cerca de 70° a 80°. Dentro desse enquadramento, o arco do horizonte representa entre 4° e 4,9% da circunferência do planeta. É uma fração pequena, mas capaz de revelar um discreto — porém real — arqueamento.
Quando as condições estão favoráveis, sem nuvens e com boa visibilidade, passageiros conseguem notar essa leve curvatura olhando pela janela. A experiência, ainda que sutil, reforça as evidências científicas e contrasta com narrativas terraplanistas. Para muitos, também desperta a noção de fragilidade do planeta — sensação semelhante à descrita pelo astronauta da Apollo 11, Michael Collins, que via a Terra como uma “coisinha frágil” suspensa no espaço.
Siga a Paiquere FM 98.9 e se mantenha informado: @paiquerefm

