A ideia de que a Terra é esférica é sustentada há mais de dois milênios, desde as observações de filósofos gregos como Aristóteles, que notou o desaparecimento gradual de navios no horizonte, e Eratóstenes, que calculou a circunferência terrestre com impressionante precisão no século III a.C. Ainda assim, um pequeno grupo continua a questionar esse consenso científico — e a resposta pode estar bem diante dos olhos de qualquer passageiro de avião.

De acordo com uma análise publicada pelo pesquisador Juan Antonio Aguilar Saavedra, a curvatura da Terra pode ser percebida a partir da janela de um voo comercial, desde que as condições de visibilidade sejam favoráveis. E a matemática confirma isso.

O que impede a percepção no dia a dia

No nível do solo, a imensidão do planeta e irregularidades do relevo dificultam enxergar qualquer curvatura. Montanhas, prédios e a própria limitação do campo de visão humano mascaram a geometria real da superfície. Por isso, a visão clara da curva terrestre é associada a altitudes maiores — como as alcançadas por astronautas.

Como a matemática revela a curvatura no avião

Usando o teorema de Pitágoras, é possível calcular a distância até o horizonte considerando um voo entre 10 km e 12 km de altitude.
Com base no raio da Terra (aprox. 6.370 km), observa-se que:

• a 10 km de altitude, o horizonte visível se estende por 357 km;

• a 12 km, esse alcance sobe para 391 km.

Esse raio expandido de visão já permite observar uma pequena porção da curvatura terrestre. O fator decisivo, segundo Saavedra, é o campo de visão: câmeras de celular, por exemplo, capturam cerca de 70° a 80°. Dentro desse enquadramento, o arco do horizonte corresponde a aproximadamente 4° a 4,9° da circunferência da Terra — pequeno, mas suficiente para uma leve curvatura perceptível.

Uma observação sutil, mas real

A percepção não é drástica como nas imagens feitas do espaço, mas pode ser notada em voos com céu limpo e horizonte amplo. Para alguns passageiros, trata-se de uma experiência científica e emocional ao mesmo tempo. O astronauta Michael Collins, da Apollo 11, descreveu a visão da Terra no espaço como a de uma “coisinha frágil”. Em escala menor, observar a curvatura pela janela de um avião pode despertar sensação semelhante — uma lembrança visual de que vivemos em um planeta esférico e vulnerável.

O estudo reforça, de forma matemática e observacional, que a curvatura terrestre é um fato físico acessível até mesmo a quem não ultrapassa a estratosfera. E, para muitos, essa constatação basta para encerrar dúvidas que persistem desde tempos remotos.

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