Novo estudo revela que ruivos cicatrizam mais lentamente por causa de gene ligado à cor dos cabelos
Pesquisadores da Universidade de Edimburgo descobriram que o gene MC1R — responsável pela pigmentação característica dos ruivos — também influencia diretamente o processo de cicatrização. A desativação parcial do gene, comum nesse grupo, provoca inflamações prolongadas e retarda o reparo de feridas. Experimentos com feridas humanas e modelos animais reforçam a relação e apontam caminhos terapêuticos promissores

Um novo estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) indica que pessoas ruivas podem cicatrizar feridas mais lentamente devido ao funcionamento alterado de um gene associado à cor dos cabelos. A pesquisa, conduzida pela Universidade de Edimburgo, na Escócia, coloca o gene MC1R — tradicionalmente ligado apenas à pigmentação — no centro de mecanismos biológicos que regulam inflamação e reparo cutâneo.
Segundo os cientistas, a desativação parcial do MC1R, comum entre ruivos, afeta a transição da fase inflamatória para a fase de reconstrução dos tecidos. Em indivíduos de cabelos escuros, o gene costuma funcionar plenamente, ajudando o organismo a “desligar” a inflamação para permitir a cicatrização. Entre ruivos, esse processo ocorre de forma mais lenta.
O que os cientistas observaram
A equipe analisou amostras de feridas humanas utilizando sequenciamento de RNA de célula única. O objetivo era acompanhar a atividade de vias pró-resolutivas — responsáveis por encerrar a inflamação. Em feridas crônicas, como úlceras diabéticas e venosas, os pesquisadores encontraram forte desregulação no eixo POMC-MC1R, justamente o responsável por equilibrar o processo inflamatório.
Essa alteração coincide com características genéticas presentes em pessoas ruivas, sugerindo que o grupo pode ter predisposição a quadros de inflamação persistente.
Resultados em modelos animais
Para aprofundar a investigação, os cientistas compararam camundongos de pelagem escura com animais de pelagem vermelha — estes últimos, equivalentes genéticos dos ruivos.
Os resultados foram claros:
95% das feridas em camundongos ruivos ainda tinham crostas após sete dias;
entre os de pelagem escura, o índice foi de 68,8%;
houve maior presença de NETs, estruturas liberadas por neutrófilos que, quando persistentes, alimentam inflamação;
a reepitelização, essencial para reconstrução da pele, ocorreu de forma mais lenta.
Os dados indicam que o funcionamento comprometido do MC1R atrasa etapas cruciais da cicatrização.
Tratamento experimental mostra resultados promissores
A equipe testou um agonista tópico capaz de ativar artificialmente o MC1R. Após o desbridamento das feridas, parte dos camundongos recebeu um gel neutro e outra parte o ativador do gene.
O tratamento acelerou a cicatrização, reduziu a inflamação, aumentou a formação de vasos sanguíneos e diminuiu de forma significativa a presença de NETs. Em 14 dias, as feridas tratadas ficaram até 33% menores, chegando a reduções de 68% em fases tardias.
Apesar dos resultados, os pesquisadores alertam que o medicamento só funciona quando o gene possui alguma atividade residual — o que não ocorre em todas as variantes presentes em ruivos.
Próximos passos
O estudo abre portas para terapias personalizadas baseadas no perfil genético de cada paciente, especialmente no tratamento de feridas crônicas. Ensaios clínicos em humanos devem começar nos próximos anos.
A descoberta reforça que a genética está profundamente ligada à saúde da pele e amplia o papel biológico atribuído ao MC1R, antes visto apenas como regulador da pigmentação.
#PaiquereFMNews #PaiquereFM989 #Ciência #Saúde #Genética #Ruivos #Cicatrização #Pesquisa

