PF cumpre nova fase de operação contra fraudes no INSS e mira ocultação de patrimônio
Ação investiga desvio de R$ 6,3 bilhões em descontos indevidos de aposentadorias; esquema envolve associação ligada a repasses milionários da Previdência

A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quarta-feira (14) a segunda fase da Operação Sem Desconto, que investiga fraudes bilionárias em descontos ilegais aplicados em aposentadorias e pensões do INSS. Dois mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Presidente Prudente (SP), com foco na identificação e bloqueio de bens de investigados suspeitos de ocultar patrimônio.
Entre os alvos desta fase estão Cícero Marcelino de Souza Santos, apontado como assessor do presidente da Conafer (Confederação Nacional dos Agricultores Familiares do Brasil), e sua esposa Ingrid Pikinskeni Morais Santos, também investigada. A PF apreendeu veículos do casal e busca rastrear o fluxo de recursos suspeitos que teriam saído da Conafer para empresas ligadas aos dois.
Segundo a PF, a associação presidida por Carlos Roberto Ferreira Lopes recebeu mais de R$ 100 milhões do Fundo do Regime Geral de Previdência Social (RGPS/INSS). Desse valor, R$ 812 mil foram repassados diretamente ao presidente da entidade, que então teria redistribuído parte dos valores para Cícero, Ingrid e empresas associadas ao casal. Os investigadores afirmam que os movimentos financeiros levantam suspeita de lavagem de dinheiro.
Esquema ilegal
A operação revelou um esquema em que associações cadastravam aposentados e pensionistas no INSS sem consentimento, usando assinaturas falsificadas para descontar mensalidades indevidas dos benefícios. O golpe teve início em 2019, ainda no governo Bolsonaro, e continuou na atual gestão de Lula, segundo a investigação. O prejuízo estimado pode chegar a R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024.
Na primeira fase, realizada no fim de abril, a PF apreendeu dinheiro em espécie, joias, relógios de luxo, quadros e até uma Ferrari. A operação levou à demissão do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e ao afastamento de outros cinco servidores públicos. Dias depois, o governo federal substituiu o então ministro da Previdência, Carlos Lupi, por Wolney Queiroz.
Principal operador
A PF identifica Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, como o principal operador do esquema. Embora não tenha sido preso, ele é apontado como peça-chave no desvio de recursos dos beneficiários.
O INSS informou que já começou a notificar mais de 9 milhões de segurados que podem ter sido vítimas dos descontos indevidos. A recomendação é que os aposentados consultem seus extratos e, em caso de cobrança não autorizada, solicitem a devolução dos valores.