Quando falar demais virava crime: a origem histórica da ligação entre fofoca e bruxaria
A origem da "bruxa fofoqueira": quando falar demais virou crime para as mulheres

A associação entre a figura da “fofoqueira” e a da bruxa tem raízes muito mais profundas e sombrias do que parece. Na Europa dos séculos XVI e XVII, durante os períodos intensos de caça às bruxas, mulheres que falavam demais, opinavam sobre a vida alheia ou simplesmente se recusavam a se manter em silêncio passaram a ser vistas como ameaças à ordem social e alvos preferenciais das acusações de bruxaria.
Naquela época, o comportamento feminino era rigidamente controlado. Esperava-se que as mulheres fossem submissas, recatadas e silenciosas. Qualquer desvio desse padrão — como criticar abertamente, se envolver em discussões comunitárias ou até mesmo fazer comentários considerados inconvenientes — podia ser interpretado como um sinal de desvio moral ou até influência demoníaca.
A fofoca, nesse contexto, não era apenas um hábito social; era vista como um risco à estrutura patriarcal. Líderes religiosos e autoridades políticas acreditavam que mulheres falantes minavam a estabilidade da família e da comunidade. Para silenciar essas “línguas perigosas”, surgiram instrumentos cruéis, como a “máscara da vergonha” — uma espécie de mordaça de metal colocada sobre a boca das mulheres para puni-las publicamente.
Esses castigos, além de físicos, eram simbólicos: buscavam não apenas calar, mas humilhar e deslegitimar a fala feminina. A imagem da “bruxa fofoqueira” não surgiu por acaso. Ela representa a tentativa histórica de controlar a voz da mulher, tratando sua liberdade de expressão como algo perigoso e subversivo.
Essa herança continua ecoando em estereótipos contemporâneos que desvalorizam a fala feminina. Mais do que um rótulo, a ideia da “fofoqueira” carrega uma memória de repressão, usada durante séculos para punir a autonomia feminina em sua forma mais simples e poderosa: a palavra.
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