Que horas são em Marte? Estudo calcula diferença de tempo entre a Terra e o planeta vermelho
Pesquisa aponta que relógios em Marte avançariam, em média, 477 microssegundos por dia a mais do que na Terra, devido a efeitos gravitacionais e orbitais previstos pela relatividade

Um estudo conduzido por pesquisadores do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos Estados Unidos (NIST) revelou os cálculos mais detalhados já realizados sobre como o tempo transcorre em Marte em comparação com a Terra. Publicada na revista científica The Astronomical Journal, a pesquisa concluiu que relógios posicionados na superfície marciana avançariam, em média, 477 microssegundos por dia a mais do que relógios equivalentes na Terra.
A diferença, embora pequena, está diretamente ligada aos princípios da teoria da relatividade geral de Albert Einstein. De acordo com a teoria, quanto mais intensa é a gravidade de um corpo celeste, mais lentamente o tempo passa. Como Marte possui gravidade superficial significativamente menor que a da Terra, o ritmo do tempo no planeta vermelho é ligeiramente mais rápido.
Além da gravidade, o estudo também considerou fatores orbitais. A órbita de Marte é mais excêntrica do que a terrestre e sofre influências gravitacionais de outros corpos do Sistema Solar, especialmente do Sol, de Júpiter e de Saturno. Essas interações fazem com que a diferença temporal não seja constante ao longo do ano marciano.
Segundo os pesquisadores, essa variação pode chegar a até 226 microssegundos ao longo de um ano em Marte. Para obter esses resultados, foram analisados dados acumulados ao longo de décadas por sondas e missões espaciais que mapearam a órbita e o campo gravitacional do planeta.
Modelar essas diferenças representa um grande desafio matemático. Em sistemas com múltiplos corpos massivos, como Sol, Terra, Lua e Marte, os cálculos se tornam complexos, exigindo simulações numéricas de alta precisão e correções relativísticas aplicadas a relógios atômicos.
Apesar de parecer insignificante, uma diferença de microssegundos é crucial em sistemas tecnológicos modernos. Em comunicações de alta velocidade e navegação espacial, erros mínimos de sincronização podem resultar em falhas na transmissão de dados ou em imprecisões de quilômetros na localização de sondas e veículos robóticos.
Os autores do estudo destacam que compreender essas diferenças é fundamental para o futuro da exploração espacial. A padronização do tempo entre planetas é considerada um passo essencial para o desenvolvimento de redes de comunicação interplanetárias e sistemas de navegação em Marte. Em 2024, o próprio NIST já havia proposto referências temporais para a Lua, e agora amplia o debate para operações no planeta vermelho.
A pesquisa também reforça a importância dos relógios atômicos ultrastáveis, que serão indispensáveis para missões futuras. A combinação de relógios instalados em Marte, referências orbitais e modelos relativísticos permitirá a precisão necessária para comunicações e navegação.
Embora o estudo represente um avanço significativo, os cientistas apontam limitações, como incertezas no campo gravitacional marciano e nas perturbações externas. Novas missões com instrumentos ainda mais precisos deverão ajudar a refinar esses cálculos e ampliar o entendimento sobre como o tempo se comporta fora da Terra.

